SAÚDE

Medicamentos podem enfraquecer os dentes das crianças, diz estudo

Estudo publicado pela USP mostrou que anti-inflamatórios usados nos primeiros anos de vida podem alterar a composição do esmalte dentário, gerando dores severas e até perdas dentárias

O uso de medicamentos nos primeiros anos de vida pode alterar a composição do esmalte dentário e aumentar chances de dor, sensibilidade e manchas nos dentes. É o que diz um estudo publicado pela Universidade de São Paulo (USP) na revista científica Scientific Reports.

Segundo a odontopediatra Ilana Marques, da IGM Odontopediatria, há algum tempo os profissionais que tratam os dentes das crianças vem percebendo um aumento de malformações e defeitos de esmaltes. Com isso, diversas teorias tentam compreender as causas desse problema.

“Levando em conta essa suspeita sobre a influência de medicamentos, decidiram fazer essa pesquisa em ratos, a qual mostrou que, realmente, nos dentes dos ratos, houve uma alteração na resistência desses dentes. Baseado nesse estudo, tem-se o projeto de novos estudos para comprovar, ou não, que há essa mesma influência em dentes de humanos”, diz Marques.

Os dentistas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP-USP) observaram que as queixas dos pacientes eram, na maioria das vezes, típicas de defeitos de desenvolvimento do esmalte dentário. Segundo a odontopediatra, o esmalte funciona como uma camada de proteção para a estrutura interna dos dentes.

O desgaste dessa proteção pode causar problemas como o surgimento frequente de cáries. “Dependendo do grau da malformação, se não houver um acompanhamento rígido pelo odontopediatra, bem como um controle rígido por parte dos pais no que diz respeito à higiene, alimentação, uso de pastas fluoretadas e, principalmente, o acompanhamento com o dentista, os prejuízos podem ser enormes, desde pequenos incômodos, até dores severas e perdas dentárias”, afirma Ilana. 

Os primeiros defeitos no esmalte costumam se formar justamente na infância, época em que uso de medicamentos anti-inflamatórios também são mais comuns, especialmente para o controle de febres.
Segundo Francisco de Paula-Silva, professor do Departamento de Clínica Infantil da FORP-USP, é nos primeiros anos de vida também que as crianças costumam usar mais medicamentos anti-inflamatórios, para aliviar quadros como febres, por exemplo. 

De acordo com os autores do estudo, algumas doenças comuns da infância geralmente são tratadas com anti-inflamatórios não esteroidais, que atuam inibindo a atividade das enzimas cicloxigenases (COXs) e a produção da enzima prostaglandina, cujos níveis se apresentam aumentados.

“Entretanto, sabemos que as cicloxigenases e a prostaglandina são fisiológicas para o esmalte dentário, o que nos levou a questionar se esses medicamentos não estariam interferindo no curso da formação normal dessa estrutura”, explica Francisco de Paula-Silva, professor do Departamento de Clínica Infantil da FORP-USP e um dos autores da pesquisa.

A investigação durou 28 dias e foi feita em camundongos, que receberam anti-inflamatórios do tipo celecoxibe e indometacina. Após o experimento, não foram observadas diferenças a olho nu nos dentes, mas exames químicos e de imagem mostraram que eles tinham menos cálcio e fosfato, substâncias importantes para formar o esmalte dentário.

Com isso, os autores do estudo concluíram que, de alguma forma, o tratamento com os medicamentos impacta a composição do esmalte dentário. Agora, para confirmar a descoberta, os dentistas da FORP-USP pretendem começar a investigar crianças com defeitos no esmalte dentário e verificar se há alguma relação com os medicamentos utilizados por elas.

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