O câncer de próstata é o tipo de tumor mais frequente entre homens no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma, de acordo com o Ministério da Saúde. Para este ano, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê que sejam diagnosticados 65 mil novos casos da doença, que, geralmente, não é descoberta em estágios iniciais. Cientistas da Universidade de Cambridge desenvolveram um algoritmo que poderá melhorar esse cenário: baseada em informações genéticas, a ferramenta consegue prever o risco de um indivíduo desenvolver a enfermidade.
Segundo os pesquisadores, o modelo de previsão, apresentado no Journal of Clinical Oncology, poderá ajudar médicos a indicarem testes mais apropriados a pacientes com maior vulnerabilidade para o surgimento do câncer, reduzindo a indicação de abordagens desnecessárias. Antonis Antoniou, um dos autores do artigo, explica que o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico), usado principalmente no rastreamento da doença, nem sempre é uma opção estratégica.
"Esses testes são, muitas vezes, falso positivo, o que significa que muitos homens seriam biopsiados desnecessariamente. Além disso, muitos tumores de próstata identificados por testes de PSA são de crescimento lento e não seriam fatais. O tratamento desses tumores pode fazer mais mal do que bem", justifica o também pesquisador do Departamento de Saúde Pública e Atenção Primária da universidade britânica.
Para chegar ao primeiro modelo abrangente de câncer de próstata, o grupo usou dados genéticos e de histórico familiar de quase 17 mil famílias. A equipe também considerou dados sobre falhas genéticas raras e uma pontuação baseada em 268 variantes comuns de baixo risco para a enfermidade.
Em média, no Reino Unido, um em cada seis homens (16%) desenvolverá câncer de próstata aos 85 anos de idade. Usando o modelo, a equipe descobriu que o risco previsto é maior para aqueles cujo pai tenha tido a doença — 27% em caso do genitor diagnosticado com 80 anos ou mais e 42% se a descoberta se deu aos 50.
Os riscos também foram consideravelmente maiores para homens com defeitos genéticos. Por exemplo, 54% daqueles que carregavam uma alteração no gene BRCA2 desenvolveriam câncer de próstata. Na prática, para chegar a uma condição de vulnerabilidade personalizada, os médicos poderão usar qualquer combinação de histórico familiar de câncer, variantes genéticas raras e comuns, apontam os cientistas.
A fim de validar o modelo, a equipe o testou em um coorte independente de mais de 170 mil homens — todos sem a doença quando recrutados, sendo que 7,6 mil desenvolveram câncer de próstata nos 10 anos subsequentes. Descobriu-se que 86% dos participantes que tiveram o tumor representavam metade do grupo de homens com os maiores riscos previstos.
O resultado, segundo os cientistas, sugere que pode ser possível direcionar testes de triagem e diagnóstico para o subgrupo da população com maior vulnerabilidade. "Criamos a ferramenta mais abrangente, até hoje, para prever o risco de um homem desenvolver câncer de próstata. Esperamos que isso ajude os médicos e conselheiros genéticos a avaliarem o risco de seus clientes e a fornecerem o acompanhamento adequado", enfatiza Tommy Nyberg, da Unidade de Bioestatística da Universidade de Cambridge.
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Validação
Oncologista do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer, Fernando de Moura avalia que o trabalho traz a validação de uma ferramenta capaz de selecionar melhor os pacientes, tornando a estratégia de rastreamento mais eficaz e racional. "Porém, é necessário ter cautela antes de considerá-lo como uma estratégia viável para qualquer população. Esse é um estudo com europeus e ainda não sabemos se sua validade também poderá se estender a outras populações, especialmente de afroamericanos", pondera. A equipe britânica espera poder incluir no algoritmo dados de homens de outras etnias à medida que novas pesquisas forem realizadas.
Paulo Lages, oncologista da Oncoclínicas Brasília e especialista em próstata, indica outro possível limitador: o preço. O médico lembra que o PSA e o exame de toque são mais baratos, se comparados à abordagem proposta pelos britânicos. "Quando a gente fala de exame para avaliar a população como um todo, não basta ser preciso, tem que ser preciso e barato, porque é um exame que vai ser feito anualmente a partir de 50 anos. Então, não adianta falarmos que vamos fazer um teste genômico todo ano se esse exame vai custar R$ 25 mil ", afirma.
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Monitoramento especial
"Atualmente, as principais diretrizes médicas e de sociedades internacionais recomendam o início do rastreamento de câncer de próstata aos 50 anos para a população geral. No entanto, considera-se que uma parcela de homens tem um risco maior de desenvolver a doença e, por esse motivo, devem iniciar o acompanhamento com 40 anos de idade. Esses homens são aqueles portadores de mutações genéticas, como as nos genes BRCA1 e BRCA2, que aumentam o risco da doença. Além disso, sabemos que homens com história de câncer de próstata na família e de etnia negra devem iniciar o rastreamento de forma mais precoce, por volta dos 40 aos 45 anos".