Quando a inflamação é protetiva

Correio Braziliense
postado em 11/12/2022 06:00
 (crédito:  GerryShaw/Divulgação)
(crédito: GerryShaw/Divulgação)

Microglias são células imunológicas produzidas pelo sistema nervoso central. A função mais conhecida dessas estruturas é devorar agentes infecciosos que possam interferir no bom funcionamento do cérebro. Em algumas doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson, elas podem ser ativadas de diferentes maneiras — dependendo da forma como se "ligam ou desligam", são capazes de provocar ou retardar o desenvolvimento dessas enfermidades.

Recentemente, pesquisadores da Universidade de Lund e do Instituto Karolinska, na Suécia, mostraram que um certo tipo de ativação das microglias desencadeia mecanismos protetores inflamatórios no sistema imunológico. "A maioria das pessoas provavelmente pensa que a inflamação no cérebro é algo ruim e que você deve inibir o sistema inflamatório em caso de doença. Mas a inflamação não tem de ser apenas negativa", afirma a espanhola Joana B. Pereira, primeira autora do estudo.

Uma das proteínas que fica na superfície das células microgliais chama-se TREM2. Quando ocorre uma mutação incomum no gene, o risco de desenvolver Alzheimer aumenta. No entanto, quando ativada, pode ser protetora. Os pesquisadores descobriram que ela é capaz de detectar produtos residuais e células em desintegração e, acionada, dificulta a formação de estruturas parecidas com fios embaraçados. Formados pela proteína tau, os chamados emaranhados neurofibrilares são um dos mecanismos mais conhecidos associados à doença neurodegenerativa.

Em estudos anteriores com animais, foi observado que as microglias podem devorar proteínas tau e, assim, limpar os resíduos anormais no cérebro. Como várias companhias farmacêuticas estão desenvolvendo anticorpos capazes de ativar o TREM2, essa pode ser uma linha futura de tratamento do Alzheimer, que atua diretamente sobre uma das causas da doença. 

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