mudança climática

Temperaturas altas podem aumentar riscos de ter um AVC

A estação preferida do brasileiro pode elevar as chances de derrame cerebral em idosos, alerta um estudo feito no Japão. Controle sistemático de fatores de risco, como pressão arterial, diabetes, colesterol e obesidade é considerado fundamental

Gabriela Chabalgoity
postado em 03/12/2022 06:00 / atualizado em 03/12/2022 11:16
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

No mês em que se inicia o almejado verão no Brasil, um estudo sugere que o calor pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral (AVC) em idosos. De acordo com a pesquisa, internações por derrame têm taxas elevadas após subidas na temperatura. "A mudança climática e o aquecimento global são problemas mundiais, e o AVC é uma das principais causas de morte", lembrou, em nota, o autor do estudo, Ryohei Fujimoto, da Universidade de Kochi, no Japão.

A pesquisa, apresentada no congresso científico da Sociedade Europeia de Cardiologia na Ásia, constatou que, para cada aumento de 1°C na temperatura, houve um risco 35% maior de atendimentos de emergência por AVC, um mês após o período chuvoso. Quando analisados os tipos de derrame associados às ondas de calor, houve uma probabilidade 24% maior de hemorrágico, 36% do isquêmico e 56% de ataque isquêmico transitório (em que há rompimento de uma artéria cerebral). Os dados foram obtidos nos prontuários de 3.267 moradores de Okayama, que tinham 65 anos ou mais quando deram entrada no hospital.

Segundo Fujimoto, uma segunda análise que usa como período de referência a época de chuvas sugere que "as condições ambientais imediatamente após a estação chuvosa intensificam a relação entre clima quente e derrame". "Além das altas temperaturas, esse período é caracterizado pelo aumento da duração do sol e menos chuva, o que pode explicar as descobertas", explica.

Prevenção 

Para o autor do artigo, o estudo fornece informações importantes no combate ao AVC. "Medidas preventivas, como instalação de ar-condicionado, devem ser consideradas uma prioridade de saúde pública para proteger as pessoas dessa doença debilitante e com risco de morte. Os sistemas de saúde podem ajudar, fornecendo espaços frescos para o público escapar do calor durante os meses mais quentes do ano", ressaltou. "Adultos mais velhos devem tentar se refrescar durante os períodos de calor."

De acordo com a vice-presidente da Sociedade Brasileira de AVC, Leticia Rebello, existem outras ações que podem diminuir os riscos de derrame quando monitorados desde o início da vida e, caso identificados, tratados com rapidez. O controle da pressão, do diabetes, do colesterol é uma das formas de avaliar possíveis riscos de AVC e, assim, combatê-los. Outras medidas a serem tomadas rotineiramente para evitar os derrames, diz a especialista, são o controle da obesidade e a prática de atividades físicas, bem como evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool e fazer exames cardiológicos regularmente.

Dados do portal de Transparência do Registro Civil, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, mostram que derrames cerebrais mataram, de 1º de janeiro até 13 de outubro deste ano, 87.518 brasileiros. Segundo o Ministério da Saúde, o AVC é uma doença tempo-dependente, ou seja, quanto mais rápido o tratamento, maior a chance de recuperação completa. Por isso, o órgão afirma que é fundamental que haja conscientização sobre os principais sinais de que alguém próximo esteja em risco.

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Sinais de alerta

De acordo com o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, uma das formas mais conhecidas de se identificar se uma pessoa está tendo um AVC é o teste do SAMU: sorriso, abraço, música e urgência. Peça para a pessoa sorrir e repare se um dos lados do rosto não está se mexendo. Ela deve conseguir levantar os braços, caso contrário, pode ser um sinal de derrame. Também peça para que ela cante o techo de uma música e observe o desenrolar das palavras. Caso sejam identificados esses três indícios, chame uma ambulância ou vá imediatamente ao pronto-socorro. 

Causa e consequência

"No caso das temperaturas mais altas, nas ondas de calor, por exemplo, existe uma adaptação fisiológica do organismo, com vasodilatação e a transpiração. O organismo usa isso para manter a temperatura do corpo em funcionamento normal. Mas este processo acarreta uma perda significativa de água e sais minerais. Com a desidratação, a viscosidade do sangue aumenta, sua frequência cardíaca eleva para compensar a vasodilatação e isso condiciona um maior esforço cardíaco. É uma situação de causa e consequência."

Joel Anisio Assad de Souza, especialista em cardiologia com atuação em área de emergência pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica

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