"Quando uma pandemia dessa natureza — matando 30% a 50% da população — ocorre, é provável que haja seleção de alelos protetores em humanos, o que significa que pessoas suscetíveis ao patógeno circulante sucumbem", diz o principal autor do artigo publicado na revista Nature, Hendrik Poinar, diretor do Centro de DNA Antigo da Universidade de McMaster, no Canadá. "Mesmo uma pequena vantagem significa a diferença entre sobreviver ou morrer. É claro que os sobreviventes em idade reprodutiva passarão essa informação em seus genes."
Contudo, embora a seleção para a rs2549794 tenha incorporado essa variante no genoma humano, protegendo contra a peste, houve igualmente consequências negativas. De acordo com o estudo, nas populações modernas, a versão do gene ERAP2 também está associada à ocorrência de doenças autoimunes. Inclusive, é um fator de risco conhecido para doença de Crohn, síndrome que afeta o sistema digestivo e é potencialmente letal.
"Doenças e epidemias como a peste deixam impactos em nossos genomas, são como pistas arqueológicas", disse Poinar. "Esses genes estão sob seleção balanceada — o que forneceu uma tremenda proteção durante centenas de anos de epidemias de peste acabou por ter consequências autoimunes agora. Um sistema imunológico hiperativo pode ter sido ótimo no passado, mas no ambiente de hoje pode não ser tão útil", destaca.
De acordo com Hendrik Poinar, pesquisas futuras com a mesma amostra vão estudar o genoma total, e não apenas o conjunto de genes selecionado. Os cientistas pretendem descobrir variantes que afetam a suscetibilidade a bactérias em homens modernos e compará-las com o DNA antigo.