Ao estudar dados sísmicos e observações orbitais associadas a dois grandes impactos de meteoritos no fim de 2021, as equipes internacionais das missões InSight e Mars Reconnaissance Orbiter, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), avançaram no conhecimento do interior planetário marciano. Dois estudos publicados na revista Science refinam os modelos da estrutura interna do planeta anteriormente propostos e fazem revelações da dinâmica e da física das ondas de choque atmosféricas.
Depois de quase três anos detectando apenas ondas de corpo (ondulações sísmicas viajando pelo corpo de um planeta) em Marte, a equipe da InSight finalmente observou as de superfície — aquelas que viajam ao longo da superfície planetária — no fim de dezembro de 2021. Isso ocorreu quando dois meteoritos colidiram com o vizinho da Terra.
Leituras atípicas de terremotos levaram os pesquisadores a suspeitar que as fontes de impacto estavam perto da superfície, então eles compararam os dados com informações do Mars Reconnaissance Orbiter. Imagens tiradas pela sonda confirmaram que ambos os meteoritos tinham hipocentros (o ponto de origem de um terremoto) na superfície marciana.
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"Antes disso, todo o nosso conhecimento da crosta marciana era baseado no que estava logo abaixo da sonda InSight", disse o professor associado de geologia da Universidade de Maryland (UMD), nos EUA, Vedran Lekic, coautor do artigo. "Mas Marte é um planeta grande — não sabíamos se a crosta era diferente em outros locais do planeta. Com essas ondas de superfície, finalmente conseguimos obter uma melhor compreensão da crosta ao longo de um grande trecho do planeta." "Esta é a primeira vez que ondas sísmicas de superfície foram observadas em um planeta diferente da Terra. Nem mesmo as missões Apollo para a Lua conseguiram", disse o principal autor do estudo, Doyeon Kim, do Departamento de Geologia da UMD.
A crosta de um planeta, ou sua casca sólida mais externa, fornece pistas importantes sobre como esse corpo se formou e evoluiu ao longo do tempo. A maioria delas, incluindo as da Terra e de Marte, foram constituídas por meio de processos dinâmicos iniciais no manto e, posteriormente, modificadas por outros eventos, como vulcanismo, sedimentação, erosão e crateras de impacto.
Segundo Katarina Miljkovic, do Centro de Ciência e Tecnologia Espacial da Universidade de Curtin, na Austrália, esses estudos vão ajudar, entre outras coisas, a compreender o reservatório de água congelada, no subsolo marciano. "Esse conhecimento é útil por muitas razões, desde a potencial futura habitação de Marte por humanos e sua capacidade de localizar água como um recurso, até o entendimento fundamental da estrutura de Marte como um planeta. Se quisermos entender a formação e evolução de nosso próprio planeta, devemos entender outros planetas terrestres também", disse Miljkovic, que participou das pesquisas.
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