meio ambiente

Uso de combustíveis fósseis dificulta futuro saudável do planeta

Os dados de 2022 sugerem que, em curto prazo, as mudanças climáticas estão afetando todos os pilares da segurança alimentar

Paloma Oliveto
postado em 26/10/2022 06:00
 (crédito: AHMAD AL-BASHA)
(crédito: AHMAD AL-BASHA)

A dependência de combustíveis fósseis, os maiores produtores de gases de efeito estufa, que impulsionam as mudanças climáticas, está agravando os impactos à saúde em todo o mundo, segundo um relatório publicado na revista The Lancet. "Nosso relatório deste ano revela que estamos em um momento crítico. Vemos como as mudanças climáticas estão causando graves impactos à saúde em todo o mundo, enquanto a persistente dependência global de combustíveis fósseis agrava esses danos em meio a várias crises globais, mantendo as famílias vulneráveis a mercados voláteis de combustíveis fósseis, expostos à pobreza energética e níveis perigosos de ar poluição", disse, em comunicado, Marina Romanello, diretora executiva da Lancet Countdown, iniciativa de monitoramento da Universidad College London.

O sétimo relatório do grupo traz contribuições de 99 especialistas de 51 instituições, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O trabalho apresenta 43 indicadores que incluem métricas novas e aprimoradas sobre o impacto da temperatura extrema na insegurança alimentar, na poluição do ar doméstico e no alinhamento da indústria de combustíveis fósseis com um futuro saudável. "Com o mundo em turbulência, governos e empresas têm a oportunidade de colocar a saúde no centro de uma resposta alinhada a essas crises simultâneas e proporcionar um futuro saudável e seguro para todos", disse Romanello.

Os dados do relatório de 2022 sugerem que, em curto prazo, as mudanças climáticas estão afetando todos os pilares da segurança alimentar. O aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos ameaçam o rendimento das culturas, reduzindo diretamente o tempo de cultivo de alimentos como milho (9,3 dias), trigo (seis dias) e arroz (1,7). "O calor extremo foi associado a mais 98 milhões de pessoas relatando insegurança alimentar moderada a grave em 103 países em 2020, comparado a 2010. Em média, 29% a mais da área terrestre global foi afetada por seca extrema anualmente entre 2012 e 2021, do que entre 1951 e 1960, colocando as pessoas em risco de insegurança hídrica e alimentar", diz o artigo.

Além disso, a exposição ao calor extremo afeta diretamente a saúde, piorando condições como doenças cardiovasculares e respiratórias e provocando insolação, interferências adversas na gestação, piora dos padrões de sono, saúde mental precária e aumento da mortalidade relacionada a lesões. Também impacta indiretamente, limitando a capacidade das pessoas de trabalhar e se exercitar, lembram os autores.

Em comparação com o período de 1986 a 2005, crianças menores de 1 ano vivenciaram, coletivamente, 600 milhões de dias a mais de ondas de calor (4,4 dias a mais por criança) entre 2012 e 2021. As mortes relacionadas às altas temperaturas aumentaram 68% entre 2017 e 2021, em comparação com 2000 a 2004. Já a exposição humana a dias com risco muito alto de incêndio elevou em 61% dos países de 2001-2004 a 2018-2021.

Infecções

A mudança climática também está afetando a propagação de doenças infecciosas. O período de tempo adequado para a transmissão da malária aumentou 32,1% nas áreas montanhosas das Américas e 14,9%, na África em 2012-2021, em comparação com 1951-1960. A influência do clima no risco de transmissão da dengue cresceu 12% globalmente, no mesmo período.

"A saúde humana, os meios de subsistência, os orçamentos domésticos e as economias nacionais estão sendo atacados à medida que o vício em combustíveis fósseis fica fora de controle. A ciência é clara: investimentos maciços e de bom senso garantirão uma vida mais saudável e segura para as pessoas em todos os países", disse, em nota, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

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