Em um pronto-socorro, os pacientes que correm risco de morte iminente recebem uma pulseira vermelha. É nesse estágio que se encontra o planeta, segundo um relatório divulgado a pouco menos de duas semanas da 27º Conferência do Clima sobre Mudanças Climáticas (COP27), no Egito. A publicação, assinada por uma equipe de cientistas globais, destaca que "os sinais vitais da Terra pioraram a ponto de a humanidade enfrentar, inequivocamente, uma emergência climática".
O relatório World Scientist's Warning of a Climate Emergency 2022, divulgado na revista BioScience, rastreia 35 sinais vitais do planeta e aponta que, destes, 16 chegaram a extremos recordes. Os indicadores são utilizados pelos cientistas para rastrear as mudanças climáticas e incluem perda da cobertura vegetal, taxa de afinamento das geleiras, aumento da temperatura dos oceanos e alterações no nível do mar. A publicação é divulgada cinco anos depois da segunda edição e após 20 anos da primeira, de 1992. Ao longo desse tempo, mais de 15 mil cientistas contribuíram com os dados que culminaram no diagnóstico da Terra.
Em duas décadas, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 40%, com índice registrado, no ano passado, de 418 partes por milhão, um nível jamais alcançado. "Como podemos ver pelos surtos anuais de desastres climáticos, estamos agora no meio de uma grande crise climática, com muito pior por vir se continuarmos fazendo as coisas do jeito que temos feito", diz Christopher Wolf, pós-doutorando na Faculdade Florestal da Universidade Estadual de Oregon e principal autor do artigo, ao lado do professor William Ripple. "Imploramos aos nossos colegas cientistas que se juntem a nós na defesa de abordagens baseadas em pesquisa para a tomada de decisões climáticas e ambientais."
Ripple, que esteve à frente das duas publicações anteriores, diz jamais ter visto um cenário tão inquietante. "Estou preocupado, estou alarmado. É importante que as pessoas vejam esses dados. Estamos fazendo negócio como de costume; houve uma interrupção transitória por causa da pandemia de covid-19, mas voltamos a estabelecer novos recordes." As consequências, segundo o ecólogo, são bastante claras, como evidencia o relatório: nos últimos anos, houve aumento da frequência de eventos de calor extremo, maior perda de cobertura vegetal global devido a incêndios e prevalência elevada do vírus da dengue, transmitido por mosquitos.
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Desafio sistêmico
Apesar dos compromissos nacionais apresentados pelos países signatários do Acordo de Paris — que tenta limitar o aumento da temperatura no fim do século a 1,5ºC ou, no máximo, 2ºC em relação ao século 19 —, ocorreu o contrário. Segundo os pesquisadores, em 51 países, os subsídios à energia gerada por combustíveis fósseis — maiores emissores de gases de efeito estufa — dobrou de 2020 para 2021 (US$ 362,4 milhões para US$ 697,2 bilhões) e devem aumentar ainda mais em 2022, especialmente devido à guerra na Ucrânia.
"A mudança climática não é uma questão isolada", disse, em nota, Saleemul Huq, da Universidade Independente Bangladesh e coautor do estudo. "É parte de um problema sistêmico maior, onde a demanda humana está excedendo a capacidade regenerativa da biosfera. Para evitar mais sofrimento humano incalculável, precisamos proteger a natureza, eliminar a maioria das emissões de combustíveis fósseis e apoiar adaptações climáticas socialmente justas, com foco em áreas de baixa renda que são mais vulneráveis."
"À medida que as temperaturas da Terra estão subindo, a frequência ou a magnitude de alguns tipos de desastres climáticos podem realmente estar aumentando", acrescentou Thomas Newsome, da Universidade de Sydney, na Austrália. A Aliança Mundial de Cientistas, um coletivo com mais de 14 mil pesquisadores de 158 países, e do qual os autores do relatório fazem parte, tem um artigo sobre sustentabilidade, aberto para co-signatários. "Pedimos aos nossos colegas cientistas de todo o mundo que se manifestem sobre as mudanças climáticas", disse Newsome.
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