Celeiro de pandemias

Correio Braziliense
postado em 23/10/2022 07:00
 (crédito: Graham Colby/Universidade de Ottawa/Divulgação )
(crédito: Graham Colby/Universidade de Ottawa/Divulgação )

Além do lançamento em potencial de gases de efeito estufa na atmosfera com o desgaste do permafrost, o derretimento das geleiras do Ártico aumenta o risco de transbordamento viral, segundo pesquisadores da Universidade de Ottawa, no Canadá. Isso significa que o impacto das mudanças climáticas pode fazer com que micro-organismos infectem novos hospedeiros, tornando a região um celeiro de futuras pandemias.

Os coautores do estudo, Audrée Lemieux e Stéphane Aris-Brosou, são os primeiros a avaliar dados de sequenciamento de DNA e RNA da região. A equipe coletou amostras do Lago Hazen, o maior sistema de água doce no Alto Ártico, para testar como o risco de transbordamento viral é afetado pelo escoamento das geleiras. O fenômeno acontece quando um vírus infecta um novo hospedeiro pela primeira vez.

"Se a mudança climática também altera a gama de espécies de potenciais vetores virais e reservatórios para o norte, o Alto Ártico pode se tornar um terreno fértil para pandemias emergentes", alerta Aris-Brosou, professora associada do Departamento de Biologia. Lemieux desenvolveu um algoritmo para determinar o risco de transbordamento viral. Os resultados sugeriram que a probabilidade era maior para amostras retiradas de cursos hídricos volumosos, que contêm mais água derretida das geleiras. À medida que as temperaturas globais aumentam, espera-se que os grandes blocos de gelo nesta área se tornem maiores, aumentando, portanto, a possibilidade de novos hospedeiros serem infectados.

"Como mostramos que o risco de transbordamento aumenta nos sedimentos lacustres de um lago do Alto Ártico, um ambiente que já está aquecendo mais rápido que o resto do mundo, acreditamos que a análise deve incentivar atividades de vigilância para mitigar quaisquer efeitos potenciais que transbordamentos podem ter no futuro", diz Lemieux. Segundo Aris-Brosou, as descobertas podem apontar para um cenário semelhante ao surgimento do ebola e do Sars-CoV-2, onde ocorre "exposição repetida a novos hospedeiros, que não têm imunidade a esses vírus", destaca.

O efeito duplo das mudanças climáticas, aumentando o risco de transbordamento e levando a um deslocamento para o norte nas faixas de espécies, pode ter uma consequência dramática na área examinada. "À medida que as mudanças climáticas e as pandemias estão remodelando o mundo em que vivemos, entender como esses dois processos interagem se tornou crítico", diz Aris-Brosou.

 

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