Um novo estudo publicado na revista Nature esboça contornos de uma "organização social" de uma família de neandertais que viveram há mais de 50 mil anos em uma caverna da Sibéria. Graças às escavações arqueológicas, sabe-se que alguns desses primos próximos do Homo sapiens enterravam seus mortos, fabricavam ferramentas e inclusive adornos, longe da imagem de brutos primitivos que os acompanhou durante muito tempo.
Porém, pouco se sabe sobre sua estrutura social. Agora, com o sequenciamento genético de um grupo inteiro de indivíduos, o maior já realizado sobre esses hominídeos, novos elementos surgiram. A história se passa no sul da Sibéria, na Rússia, uma região particularmente frutífera para a busca de DNA antigo, já que o frio ajuda a conservar esse frágil e precioso indicador do passado. Ali foi descoberto o genoma do homem de Denisova, outra raça humana extinta, a gruta de mesmo nome, lembra um comunicado do Instituto Max Planck de Antropologia evolutiva de Leipzig, na Alemanha, onde a pesquisa divulgada ontem foi realizada.
A cerca de 100km de distância, encontram-se as cavernas de Chagyrskaya e Okladnikov, ocupadas pelos neandertais por volta de 54 mil anos atrás. Ali já tinham sido recuperados vários vestígios em uma única camada de depósitos, o que indicava que os ocupantes tinham vivido aproximadamente no mesmo período.
Os cientistas descobriram que os restos mortais eram de 13 neandertais (sete homens e seis mulheres, entre eles cinco crianças ou adolescentes), sendo que 11 deles estavam na caverna de Chagyrskaya. No DNA mitocondrial, os pesquisadores encontraram uma mesma variante genética, a heteroplasmia, que persiste apenas em poucas gerações. Os genes também revelaram vínculos estreitos de parentesco: um pai e sua filha adolescente, um menino e uma mulher adulta que teria sido sua prima, tia ou avó. São provas diretas de que essas pessoas pertenciam à mesma família e eram contemporâneas.
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Sem mistura
A família em questão, geneticamente próxima dos neandertais do oeste da Europa, não se misturou a outras espécies — sapiens e denisova — como fizeram outros neandertais em outras épocas. A diversidade genética é, por outro lado, muito frágil, um sinal de uma importante consanguinidade e de uma vida em um pequeno grupo, composto por entre 10 e 20 indivíduos, muito menor do que as antigas comunidades do homem moderno. "Provavelmente trata-se de uma população muito subdividida, mas que não vivia completamente isolada", explica Stéphane Peyrégne, principal autor do estudo.
As mulheres tendiam a emigrar de comunidade em comunidade para procriar, ficando os homens em seu clã de origem. Esse funcionamento "patrilocal", que também prevalecia nos sapiens, é sugerido devido a uma diversidade genética dos cromossomos Y (transmitidos pela linhagem masculina), muito mais frágil do que o DNA mitocondrial, passado unicamente pela mãe.
Essa organização social já tinha sido antecipada depois da descoberta de fósseis na caverna de El Sidrón, na Espanha, mas com base em um material genético menos completo, observa o paleontólogo Antoine Balzeau, que não participou do estudo. "É uma proeza técnica muito interessante para nossas pesquisas, embora seja preciso comparar com outros grupos", afirmou o pesquisador do Museu Nacional de História Natural.
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