Um fenômeno "aterrorizante"

Correio Braziliense
postado em 05/10/2022 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Se causa estranhamento ao leitor o conceito de entrelaçamento quântico, ele certamente não está sozinho. O gênio Albert Einstein questionou o fenômeno e o descreveu como "aterrorizante". Ainda hoje, muitos graduados em física não conseguem entender o fenômeno, assegurou à agência France-Presse de notícias (AFP) Chris Phillips, físico do Imperial College de Londres.

Entrelaçamento ou emaranhamento é um mecanismo em que duas partículas quânticas estão perfeitamente correlacionadas, independentemente da distância entre elas. Por exemplo, um fóton (partícula de luz) que passa por um vidro especial para dar origem a dois fótons. Essas duas partículas resultantes "não têm a mesma cor da inicial, mas estão entrelaçadas porque surgiram do mesmo fóton", explica Phillips. "Se você medir um desses fótons, o outro será instantaneamente afetado — não importa a distância entre eles."

Phillips constatou esse fenômeno "extremamente estranho" em seu laboratório, onde trabalha com dois feixes de fótons emaranhados. "Se eu colocar minha mão em um desses feixes, algo instantaneamente acontece no outro feixe do outro lado da sala: se move uma agulha que registra o fenômeno."

O fato de que algo possa acontecer simultaneamente, mesmo a grandes distâncias, invalida o chamado "princípio da localidade", segundo o qual algo que acontece em um lugar não deve afetar o que acontece em um lugar distante. Em 1964, o físico norte-irlandês John Stewart Bell desenvolveu uma teoria para verificar se essas "variáveis ocultas" que tanto preocupavam Einstein existiam. Mas faltavam experiências de laboratório. Foi isso que o físico francês Alain Aspect conseguiu duas décadas depois. Ele provou que duas partículas luminosas "entrelaçadas" afetam uma à outra, instantaneamente, repetidamente.

Em entrevista ao Nobel, Aspect confessou que, depois de todos esses anos, ainda tem dificuldade em aceitar a "imagem mental" desse princípio "que é algo 'totalmente louco'". Seus colegas premiados, o austríaco Anton Zeilinger e o norte-americano John Clauser também testaram o teorema de Bell e chegaram à mesma conclusão: o fenômeno só pode ser explicado com esse princípio de "não localidade".

O grande mistério, contudo, permanece 100 anos depois de Einstein: Por que esse fenômeno ocorre? "Temos que ser humildes em relação à física", explica Chris Phillips. "Apenas existe."

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