Especialistas da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) defendem uma mudança na classificação da obesidade. No lugar do índice de massa corporal (IMC), os médicos argumentam que, para o acompanhamento do progresso dos pacientes, é mais vantajoso considerar o percentual de perda de peso.
Em um artigo publicado na revista Archives of Endocrinology and Metabolism, os médicos destacam que a perda acima de 5% do peso mais alto que o paciente registrou é associada a melhoras clínicas, sendo que a redução entre 10% e 15% traz ainda mais benefícios à saúde, independentemente do IMC. "Essa classificação simples — que não pretende substituir outras, mas servir como ferramenta adjuvante — poderia ajudar a disseminar o conceito de benefícios clínicos derivados da perda de peso modesta, permitindo que indivíduos com obesidade e seus profissionais de saúde se concentrem em estratégias de manutenção do peso, no lugar de maior redução de peso", alegam.
Segundo a endocrinologista Maria Edna de Melo, presidente do Departamento de Obesidade da Sbem, especialmente nos casos de obesidade grave, em que, geralmente, o paciente tem excesso de peso há muito tempo, além de predisposição genética à doença, pode ser muito frustrante ter como meta baixar o IMC. "Isso pode levar à interrupção do tratamento e à recidiva da doença", destaca a médica, que é um dos autores do artigo publicado na Archives of Endocrinology and Metabolism.
Maria Edna de Melo explica que algo semelhante acontece no manejo da diabetes 2. De acordo com a endocrinologista, a hemoglobina glicada (medida da glicemia no sangue) ideal é abaixo de 5,7. "Mas para uma pessoa que tem a doença, em torno de 7 é considerado um valor bom, não precisa ficar abaixo disso, porque há benefícios para a saúde." A médica exemplifica com uma paciente jovem, que pesava 160kg e conseguiu eliminar 60kg. "Ela ainda tem 100kg e um IMC 40 (classificado como obesidade mórbida). Mas ela perdeu 60kg, e, para a saúde, isso é muito importante."
A especialista destaca que avaliações de peso e distribuição de gordura corporal devem, sempre, levar em conta as especificidades de cada paciente. "A obesidade se apresenta de maneiras diferentes; por exemplo, tem gente com peso considerado normal, mas com toda a gordura concentrada na barriga. Por isso, a abordagem tem de ser individualizada." (PO)
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