Jornal Correio Braziliense

Duas perguntas para...

Paulo Marsiglio Neto, especialista em otorrinolaringologia e em medicina do sono das clínicas OtorrinoDF e Medsono

Embora não tracem uma relação de causa e efeito, os estudos são fortes o suficiente para sugerir que a apneia obstrutiva do sono pode impactar o risco de câncer, declínio cognitivo e trombose?

Há vários anos são realizadas pesquisas relacionadas a esses temas, e os resultados demonstrados nos sumários dos artigos apresentados endossam cada vez mais a convergência entre a apneia obstrutiva do sono e suas consequências vasculares, neurológicas e cancerígenas. Embora essa relação encontrada seja considerável, isso não quer dizer que a apneia do sono provoque diretamente tais consequências clínicas, mas trata-se de um alerta significativo para que possamos iniciar uma abordagem preventiva.

Quais os mecanismos biológicos que poderiam explicar essas associações?

As consequências da AOS são, em grande parte, mediadas por quedas/flutuações crônicas do oxigênio sanguíneo (hipoxia) e fragmentação do sono, que geram estresse oxidativo e processo inflamatório crônico. A ativação do fator transcripcional de hipóxia, uma proteína-chave na homeostase do oxigênio, provoca a ativação de muitas outras moléculas relacionadas às vias de reação pró-inflamatórias, inclusive o fator de necrose tumoral alfa. A desregulação e a superexpressão desse fator por hipóxia ou alterações genéticas têm sido fortemente implicadas na biologia do câncer, bem como inúmeras outras patologias, especificamente as disfunções endoteliais que, consequentemente, favorecem fenômenos vasculares tromboembólicos e doenças cérebro-degenerativas.