Alerta

Apneia do sono é sinal de risco para cânceres, declínio cognitivo e trombose

Novos estudos relacionam a ocorrência do distúrbio ao risco aumentado de cânceres, declínio cognitivo e trombose

O remédio de colesterol gerou o benefício  mesmo sem o uso da CPAP, a terapia tradicional para a apneia  -  (crédito: Dave Olecko/Divulgação )
O remédio de colesterol gerou o benefício mesmo sem o uso da CPAP, a terapia tradicional para a apneia - (crédito: Dave Olecko/Divulgação )
Paloma Oliveto
postado em 11/09/2022 06:00 / atualizado em 30/08/2023 15:51

Distúrbio comum caracterizado pela obstrução parcial ou completa das vias aéreas ao dormir, a apneia obstrutiva do sono (AOS) pode provocar mais do que uma sensação de noite mal-dormida. Três estudos recentes apresentados no Congresso Internacional da Sociedade Respiratória Europeia (ERS) em Barcelona, na Espanha, encontraram associações entre o transtorno e o risco elevado de cânceres, declínio cognitivo e trombose.

Acredita-se que a AOS afete pelo menos 7% a 13% da população. Pessoas com sobrepeso ou obesidade, diabetes, que fumam ou consomem grandes quantidades de álcool correm maior risco. Segundo Andreas Palm, autor sênior do estudo que associou a apneia à maior probabilidade de desenvolvimento de tumores malignos, pesquisas anteriores haviam traçado essa relação. Porém, não estava claro se isso se devia à AOS ou a fatores de risco de vários tipos de câncer, como estilo de vida e doenças cardiometabólicas.

Para obter um cenário mais claro, a equipe da Universidade de Uppsala, na Suécia, analisou os prontuários de 62.811 pacientes do distúrbio e cruzou as informações com fatores que pudessem afetar os resultados, como condições socioeconômicas. Também relacionaram dados de 2.093 pacientes com AOS ao diagnóstico de câncer até cinco anos antes da detecção da apneia, comparando com um grupo controle de 2.093 pessoas com o distúrbio respiratório, mas sem doenças oncológicas.

Os pesquisadores, então, mediram a gravidade da AOS pelo índice de apneia e de hipopneia (IAH), que calcula o número de episódios durante o sono, ou pelo índice de dessaturação de oxigênio (ODI), que identifica quantas vezes por hora os níveis de oxigênio no sangue caem em pelo menos 3% por 10 segundos ou mais. "Descobrimos que os pacientes com câncer tinham AOS um pouco mais grave. Em uma análise mais aprofundada dos subgrupos, o índice de dessaturação foi maior em pacientes com câncer de pulmão (38% versus 27%), câncer de próstata (28 versus 24) e melanoma maligno (32 versus 25)", disse Palm.

O médico ressalta que o estudo não pode afirmar que a AOS causa câncer, apenas que está associada a ele. A principal força da pesquisa, segundo os autores, é o grande tamanho e a alta qualidade dos dados sobre diagnóstico de câncer e AOS.

Embora não se saiba exatamente como a AOS pode aumentar o risco de câncer, médicos começam a levantar teorias que trazem uma relação de causa e efeito. "A hipoxemia crônica (baixo nível de oxigênio no sangue) e o sono fragmentado são mecanismos pelos quais acredita-se que a apneia obstrutiva do sono contribua para o desenvolvimento do câncer", afirma Tetyana Kendzerska, pesquisadora da Divisão de Respirologia da Universidade de Ottawa, no Canadá. Ela é um dos autores de um estudo realizado no país norte-americano que encontrou um risco 15% maior de tumores malignos em pessoas com AOS, sendo 30% mais elevado no caso de hipoxemia grave.

Para muitos pesquisadores, o bloqueio das vias aéreas poderia promover um processo chamado neovascularização, ou seja, o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos, que são essenciais para o crescimento de tumores. Um estudo com modelos animais publicado na revista Cancer Research constatou que, nos camundongos com tumores que foram colocados em ambientes simulando os efeitos da apneia do sono, o câncer progrediu muito mais rápido, comparado aos roedores não privados de oxigênio.

Um outro estudo apresentado no congresso internacional pelo professor Wojciech Trzepizur, do Hospital Universitário de Angers, na França, mostrou que pacientes com AOP mais grave tinham maior probabilidade de desenvolver tromboembolismo venoso (TEV). Das 7.355 pessoas acompanhadas por mais de seis anos, 104 desenvolveram o problema.

"Esse é o primeiro estudo a investigar a associação entre apneia obstrutiva do sono e a incidência de tromboembolismo venoso", disse Trzepizur, em nota. "Descobrimos que pacientes que passavam mais de 6% da noite com níveis de oxigênio no sangue abaixo de 90% do normal tinham um risco quase duas vezes maior de desenvolver TEVs em comparação a pessoas sem privação de oxigênio."

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