DEGENERAÇÃO CELULAR

Luz azul emitida por smartphones e computadores acelera envelhecimento

Anteriormente, o mesmo grupo de pesquisadores mostrou que, quando expostas à luz azul, as drosófilas, conhecidas como moscas da fruta, ativam os genes protetores do estresse

Paloma Oliveto
postado em 01/09/2022 06:00
 (crédito: Wikimedia Commons/Divulgação)
(crédito: Wikimedia Commons/Divulgação)

Com o uso excessivo de eletrônicos como o celular e as telas de TV e de computador, as pessoas estão expostas praticamente o dia inteiro à luz azul emitida por esses equipamentos. Estudos já demonstraram uma associação entre esse tipo de radiação a obesidade e problemas psicológicos. Agora, uma nova pesquisa sugere que funções celulares básicas podem ser afetadas por ela. Um dos efeitos diretos é o envelhecimento, diz o artigo publicado na revista Frontiers in Agin.

"A exposição excessiva à luz azul de dispositivos do dia a dia pode ter efeitos prejudiciais em uma ampla gama de células do nosso corpo, desde células da pele e gordura até neurônios sensoriais", afirmou, em um comunicado, Jadwiga Giebultowicz, do Departamento de Biologia Integrativa da Universidade Estadual de Oregon, nos Estados Unidos, e autor sênior do estudo.

"Somos os primeiros a mostrar que os níveis de metabólitos específicos — substâncias químicas essenciais para que as células funcionem corretamente — são alterados em moscas da fruta expostas à luz azul. Nosso estudo sugere que evitar a exposição excessiva à luz azul pode ser uma boa estratégia antienvelhecimento", assinalou Giebultowicz.

Anteriormente, o mesmo grupo de pesquisadores mostrou que, quando expostas à luz azul, as drosófilas, conhecidas como moscas da fruta, ativam os genes protetores do estresse. Aquelas mantidas em constante escuridão viviam mais.

Metabólitos

Para entender por que a luz azul de alta energia é responsável por acelerar o envelhecimento em moscas da fruta, os pesquisadores compararam os níveis de metabólitos em drosófilas expostas a esse tipo de radiação por duas semanas com aquelas mantidas em completa escuridão. No primeiro caso, houve diferenças significativas nas substâncias medidas nas células cerebrais.

Em particular, os cientistas descobriram que os níveis do metabólito succinato aumentaram, mas os de glutamato foram reduzidos. "O succinato é essencial para produzir o combustível para a função e o crescimento de cada célula. Altos níveis de succinato após a exposição à luz azul podem ser comparados ao gás estar na bomba, mas não entrar no carro", explicou Giebultowicz. "Outra descoberta preocupante foi que as moléculas responsáveis pela comunicação entre os neurônios, como o glutamato, estão no nível mais baixo após a exposição à luz azul", destacou.

As mudanças sugerem que as células estão operando em um nível abaixo do ideal, e isso pode causar sua morte prematura, além de acelerar o envelhecimento. Trabalhos futuros vão estudar os efeitos diretamente em seres humanos. De acordo com a oftalmologista Nubia Vanessa, do CBV-Hospital de Olhos e da Secretaria de Saúde do DF, é possível que os efeitos sejam iguais. "Todos os metabólitos alterados pela luz azul no estudo são comuns às células das moscas e humanas. Portanto, é possível que a exposição prolongada à luz azul possa ter efeitos semelhantes, embora mais sutis, na pele, gordura subcutânea e outras células em humanos", ressaltou.

A médica alertou que a exposição excessiva a esse tipo de radiação pode afetar a saúde dos olhos. "Pode afetar a visão porque ocorre a produção de radicais livres que alteram metabólicos oculares, favorecendo o envelhecimento. Com isso, pode ocorrer degeneração macular relacionada à idade, catarata e outras alterações corneanas", disse.

Além de reduzir o tempo de uso dos eletrônicos, Nubia Vanessa aconselhou o uso de filtros e recomendou optar pelo fundo preto nos equipamentos, o que reduz os efeitos da luz azul. "Procure estar sempre em ambientes claros, para diminuir o estresse do olho e, se possível, não use o computador na hora de dormir", complementou Maisa Kairalla, médica geriatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

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