Um estudo publicado na revista científica Cell Reports, nesta terça-feira (23/8), mostra que sósias sem parentesco relacionado apresentam também semelhanças genéticas.
O estudo liderado por Manel Esteller usou 32 pares de sósias para fazer testes de DNA e preencher questionários em relação ao estilo de vida. Os pesquisadores utilizaram um software de reconhecimento facial para quantificar as semelhanças entre os rostos dos participantes — alguns moravam, inclusive, em continentes diferentes.
Dezesseis desses 32 pares alcançaram pontuações gerais semelhantes a gêmeos idênticos analisados pelo mesmo software. Os pesquisadores, então, compararam o DNA desses 16 pares de sósias para verificar se o DNA era tão semelhante quanto os rostos.
Os pesquisadores descobriram que os 16 pares que eram "verdadeiros" sósias compartilhavam significativamente mais genes do que os outros 16 pares que o software considerava menos semelhantes.
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"Essas pessoas realmente se parecem porque compartilham partes importantes do genoma, ou a sequência de DNA", disse Manel Esteller ao jornal The New York Times. Ele acrescentou ainda, que pessoas mais parecidas terem mais genes semelhantes era um senso comum, mas nunca havia sido provado.
No entanto, nossa aparência não é definida apenas pelo DNA. As experiências vividas e as de nossos ancestrais influenciam quais de nossos genes são ativados ou desativados — o que os cientistas chamam de epigenomas.
O microbioma, nossa comunidade microscópico composto por bactérias, fungos e vírus, é ainda mais influenciada pelo nosso ambiente. Esteller descobriu que, embora os genomas dos sósias fossem semelhantes, seus epigenomas e microbiomas eram diferentes. "A genética os une, e a epigenética e o microbioma os separam", disse ele.
Isso nos mostra que as aparências semelhantes dos pares têm mais a ver com o DNA do que com os ambientes em que cresceram, fato que surpreendeu Esteller, que esperava ver uma influência ambiental maior.
Como as aparências dos sósias são mais atribuíveis a genes compartilhados do que a experiências de vida compartilhadas, isso significa que, até certo ponto, as semelhanças são apenas sorte, estimuladas pelo crescimento populacional. “Agora existem tantas pessoas no mundo que o sistema está se repetindo”, disse.
O pesquisador espera que as descobertas do estudo ajudem os médicos a diagnosticar doenças no futuro — se as pessoas tiverem genes semelhantes o suficiente para se parecerem, elas também podem compartilhar predileções por doenças. Ele também sugeriu que pode haver ligações entre características faciais e padrões comportamentais, e que as descobertas do estudo podem um dia ajudar a ciência forense, fornecendo um vislumbre dos rostos de suspeitos de crimes conhecidos apenas por amostras de DNA.
No entanto, Daphne Martschenko, pesquisadora de pós-doutorado no Stanford Center for Biomedical Ethics, que não esteve envolvida no estudo, pediu cautela ao aplicar as descobertas à forense.
“Já vimos muitos exemplos de como os algoritmos faciais existentes foram usados para reforçar o preconceito racial existente em coisas como moradia e contratação de empregos e perfis criminais”, disse Martschenko, acrescentando que o estudo "levanta muitas considerações éticas importantes."
A íntegra do estudo pode ser conferida aqui.