Jornal Correio Braziliense

Três perguntas para

Ramon Barreto, oftalmologista e especialista em retina do Visão Hospital de Olhos

 Ramon Barreto, oftalmologista do Visão Hospital de Olhos, especialista em retina
Visão Hospital de Olhos/Divulgação - Ramon Barreto, oftalmologista do Visão Hospital de Olhos, especialista em retina

Estudos anteriores já sugeriram associações entre glaucoma, Alzheimer e o gene APOE4. Qual seria a relação entre eles?

A superexpressão do APOE4 acarreta, de acordo com alguns estudos científicos, um maior risco de desenvolvimento do Alzheimer, porém reduziria o risco de dano glaucomatoso. Sabe-se que a APOE atua na regulação da homeostase (equilíbrio) das células da micróglia, que são células de suporte e proteção das células nervosas, tanto da retina quanto do sistema nervoso central. O dano glaucomatoso e consequente cegueira ocorrem quando temos a degeneração das células ganglionares, que são os neurônios responsáveis por transmitir os impulsos visuais dos fotorreceptores da retina até o cérebro.

Os mecanismos que levam ao glaucoma e à perda de visão por essa causa já são bem compreendidos?

Sabe-se que o glaucoma ocorre pela degeneração das células ganglionares. Mas o mecanismo exato que leva a essa degeneração ainda não está totalmente elucidado. O principal fator de risco para a degeneração das células ganglionares é o aumento da pressão intraocular. Porém, existem casos de dano glaucomatoso mesmo com a pressão ocular normal. Uma das explicações seria justamente o papel da APOE na homeostase nas células de sustentação e proteção desses neurônios, ou seja, nas células da glia, em especial na micróglia.

O estudo sugere uma abordagem genética para o tratamento do glaucoma. Embora ainda esteja na fase pré-clínica, há expectativas de que essa abordagem poderá beneficiar pacientes humanos?

Estudos têm demonstrado que, ao se ter como alvo a APOE, como também a galectina-3, teria-se uma proteção das células ganglionares da retina, evitando o seu dano, chamado também de apoptose, o que evitaria a perda de campo visual e a cegueira. Então, o desenvolvimento de medicamentos e terapia gênica nestes alvos poderia ser de grande valia no tratamento do glaucoma. Os resultados devem ser analisados sempre com cautela, pois ainda são estudos iniciais, testados em animais e não se sabe ainda se a resposta em humanos seria ou não similar. Por isso, é importante estudos futuros acerca desse tema.