No tupi-guarani, garatéa significa "busca-vidas". E é com esse intuito que um grupo de pesquisadores brasileiros pretende enviar uma sonda à Lua até 2025. "A Lua é o próximo destino da humanidade, antes de nos aventurarmos em Marte. Com isso, é necessário estudos mais aprofundados de todo o ambiente lunar, para preparar terreno para os humanos que vão habitar a órbita lunar", defende Lucas Fonseca, engenheiro espacial e gerente do projeto
O projeto da Garatéa-L é constituído por três pilares: ciência, empreendedorismo e educação. No âmbito científico, a missão lunar tem o enfoque da astrobiologia, que é a área que estuda as origens, evolução e futuro da vida no universo. Portanto, os pesquisadores pretendem realizar um experimento biológico, levando colônias de microorganismos e moléculas que serão expostas à radiação cósmica para investigar a adaptação em condições extremas.
"Em novembro de 2022, estamos mandando uma bandeira brasileira em forma de mosaico com faces digitalizadas de brasileiros para um servidor que vai ser colocado na superfície lunar. Em 2023, pretendemos testar nosso experimento físico em órbita terrestre e em 2024 pousar o mesmo experimento na superfície lunar. O satélite com o experimento de astrobiologia, qual chamamos de Garatéa-L, deve voar apenas em 2025", explica Lucas.
Os desafios de fazer ciência no Brasil
Em relação ao empreendedorismo, Lucas explica que o propósito da missão é fomentar o movimento conhecido como New Space, em que iniciativas privadas buscam meios sustentáveis de realizar atividades espaciais. "A economia espacial vem crescendo muito rapidamente e será responsável por grandes divisas para os países participantes em um futuro muito próximo", diz o engenheiro espacial, criador da empresa Airvantis.
Lucas Fonseca é formado em engenharia mecatrônica e tem especialização em engenharia espacial. Em 2010, ele foi contratado pela Agência Espacial Alemã e atuou na missão Rosetta, da Agência Espacial Europeia. A missão, pioneira e histórica, pousou uma sonda em um cometa.
"Eu ajudei durante quase três anos nos cálculos de pouso que a sonda Philae (parte da Rosetta) efetuou em um cometa. Por ser um feito inédito da humanidade, eu tinha muita satisfação de poder fazer de um time tão seleto. Acabei sendo o único latino-americano a participar do time que calculou o pouso, o que me permitiu alçar outros voos em minha carreira posteriormente", lembra Lucas.
Embora a Garatéa-L seja uma missão de iniciativa majoritariamente privada, Lucas pontua que os cortes em ciência e tecnologia no país prejudicam bastante o andamento dos projetos científicos. "Estamos em uma baixa histórica que pode causar danos irreversíveis para o curto e médio prazo", alerta o pesquisador.
Saiba Mais
Dados do Ministério da Ciência e Tecnologia mostram que o Brasil investe cerca de 1,2% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, contrariando a tendência internacional. "Eu não sou cientista há algum tempo, hoje trabalho com a parte burocrática que pode viabilizar novos modelos para se fazer ciência no país. Então, vivo diariamente a dificuldade de achar fomento para executar projetos científicos desafiadores no país", relata Lucas.
Fomentando o interesse na ciência em estudantes brasileiros
O outro pilar do Instituto Garátea é inspirar estudantes às atividades científicas. "Durante quatro anos, enviamos experimentos de alunos brasileiros para a Estação Espacial Internacional (ISS). Com 10 mil alunos alcançados, quase 70% das escolas participantes eram públicas", ressalta o gerente da Garatéa-L. Além da ISS, foram realizados projetos de balões estratosféricos com os estudantes.
Lucas explica que esses balões são as ferramentas mais acessíveis para o início das atividades espaciais. "São balões preparados para alçarem altitudes acima de 20km, permitindo testarmos experimentos científicos e tecnologias em um ambiente muito mais próximo do espaço do que temos em altitudes baixa", diz.