Clínica

Exame de eletrocardiograma pode diagnosticar diabetes

A abordagem, além de menos invasiva que o tradicional exame de picada do dedo, tem potencial para ser usada para rastrear as complicações em ambientes de poucos recursos

Um exame de eletrocardiograma pode ser usado para diagnosticar diabetes tipo 2 e pré-diabetes. A proposta, que tem como base o uso de inteligência artificial, é apresentada na revista BMJ Innovations por cientistas dos Estados Unidos, que levaram em consideração os resultados de um teste com 1.262 participantes. Se validada em estudos maiores, a abordagem, além de menos invasiva que o tradicional exame de picada do dedo, tem potencial para ser usada para rastrear as complicações em ambientes de poucos recursos, dizem os autores, liderados pelo pesquisador e biomédico Hemant Kulkarni.

A equipe baseou-se em dados de participantes do estudo Diabetes in Sindi Families in Nagpur (Disfin), que analisou a base genética do diabetes tipo 2 e outras características metabólicas em famílias de Nagpur, na Índia, com alto risco de desenvolver a doença. Os participantes, com em média 48 anos, forneceram detalhes sobre hábitos alimentares, os históricos médicos pessoais e de familiares e foram submetidos a uma ampla gama de exames de sangue e avaliações clínicas.

Um eletrocardiograma de 12 derivações, com duração de 10 segundos, foi feito em cada um dos voluntários — a maioria, 61%, era mulher. Depois, 100 recursos estruturais e funcionais exclusivos para cada derivação foram combinados com 10.461 batimentos cardíacos únicos registrados. Assim, a equipe chegou ao algoritmo preditivo, denominado DiaBeats. Com base na forma e no tamanho dos batimentos cardíacos individuais, o algoritmo detecta rapidamente diabetes e pré-diabetes com uma precisão geral de 97%, independentemente de fatores influentes, como idade, sexo e distúrbios metabólicos coexistentes.

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Sinais precoces

Segundo os autores, alterações estruturais e funcionais no sistema cardiovascular ocorrem precocemente — mesmo antes das alterações indicativas de glicose no sangue —, e elas aparecem em um traçado cardíaco do eletrocardiograma. O exame, portanto, pode funcionar para a detecção da doença nos estágios iniciais. "Em teoria, nosso estudo fornece uma alternativa relativamente barata, não invasiva e precisa (para os métodos diagnósticos atuais) que pode ser usada como um guardião para detectar efetivamente diabetes e pré-diabetes no início de seu curso", afirmam, em nota.

Apesar do resultado promissor, os pesquisadores reconhecem que os participantes do estudo estavam em alto risco de diabetes e outros distúrbios metabólicos. Portanto, é improvável que representem a população em geral. Além disso, o algoritmo foi um pouco menos preciso nos participantes que tomavam medicamentos prescritos para diabetes, pressão alta e colesterol alto, entre outras complicações. "A adoção desse algoritmo na prática de rotina precisará de validação robusta em conjuntos de dados externos e independentes", pondera o grupo.