oncologia

Produto químico bem comum é ligado a casos de câncer de fígado

O químico é utilizado em uma grande variedade de produtos para garantir características como antiaderência, impermeabilidade e resistência a manchas

Todos os anos, cerca de 800 mil pessoas são diagnosticadas com câncer de fígado no mundo. Essa é também uma das principais causas de mortes por tumores malignos, sendo responsável por mais de 700 mil óbitos anuais, segundo o Instituto Oncoguia. Uma pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, publicada no JHEP Reports, mostra que um produto químico sintético amplamente encontrado no meio ambiente — o sulfonato de perfluorooctano (PFOS) — pode estar diretamente ligado ao carcinoma hepatocelular não viral, tipo mais comum de câncer de fígado.

Esse químico faz parte de produtos artificiais chamados substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), utilizados em uma grande variedade de produtos para garantir características como antiaderência, impermeabilidade e resistência a manchas. Embalagens de fast food, panelas antiaderentes e roupas impermeáveis são exemplos de produtos que podem ter esses químicos.

Além de oferecerem potenciais riscos à saúde, como mostra o estudo americano, os PFOS se decompõem lentamente e se acumulam no meio ambiente e nos tecidos humanos, incluindo o fígado. Pesquisas anteriores, feitas em animais, sugeriram que esses produtos poderiam aumentar o risco de câncer de fígado, mas o estudo divulgado agora é o primeiro a confirmar a associação usando amostras humanas, segundo os autores.

A nova pesquisa, baseada na análise de amostras de sangue, revela que os indivíduos com mais concentração do produto (os 10% maiores) tinham 4,5 vezes mais risco de desenvolverem câncer de fígado do que aqueles com os níveis mais baixos. A avaliação das amostras encontrou evidências de que os PFOS parecem alterar o processo normal do metabolismo da glicose, dos ácidos biliares e de aminoácidos de cadeia ramificada.

Falhas nesses processos podem fazer com que mais gordura se acumule no órgão, uma condição conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica ou DHGNA. "O câncer de fígado é um dos desfechos mais graves na doença hepática, e esse é o primeiro estudo em humanos a mostrar que os PFAS estão associados a essa doença", enfatiza Jesse Goodrich, PhD, estudioso de pós-doutorado no Departamento de População e Ciências da Saúde Pública da Keck School of Medicine.

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Longo prazo

Veronica Wendy Setiawan, PhD e professora de ciências da população e da saúde pública da Keck School, chama a atenção para a dificuldade em conduzir esse tipo de análise. "Parte da razão pela qual houve poucos estudos em humanos é porque você precisa das amostras certas", explica. "Quando você está olhando para uma exposição ambiental, você precisa de amostras bem antes de um diagnóstico, porque leva tempo para o câncer se desenvolver."

A equipe analisou um repositório de amostras de sangue e tecidos humanos colhidos, a longo prazo, de mais de 200 mil moradores de Los Angeles e Havaí e chegou a 50 participantes que tiveram a doença. Depois, avaliaram as amostras de sangue coletadas antes do diagnóstico da doença e as compararam com 50 colhidas de participantes que não tiveram o tumor.

Os pesquisadores encontraram vários tipos de PFOS nas amostras de sangue que foram coletadas antes do participante desenvolver a doença. A expectativa do grupo é de que o estudo ofereça informações importantes sobre os efeitos de longo prazo desses produtos na saúde humana, especialmente na ocorrência do câncer de fígado. "Esse estudo preenche uma lacuna importante em nossa compreensão das verdadeiras consequências da exposição a esses produtos químicos", finaliza Leda Chatzi, líder da pesquisa.