Atividades musicais entre familiares, cuidadores e pessoas com demência podem auxiliar em um dos maiores problemas enfrentados pelas famílias daqueles que têm essa condição, a desconexão afetiva e social dos pacientes. Um estudo promovido pela Northwestern Medicine mostrou que interações entre a reprodução de músicas conhecidas pelas pessoas antes de perderem a memória aumenta a sociabilidade, traz bom humor e afasta a ansiedade e a depressão.
O estudo Pontes musicais para a memória, publicado na quinta-feira (25/8) na revista Alzheimer Disease and Associated Disorders, fez o experimento com um grupo de pessoas com demência e cuidadores de uma clínica de cuidados em Chicago, nos EUA. O objetivo era descobrir alguma forma de manter um relacionamento afetivo e social com uma pessoa com a doença.
“A família e os amigos das pessoas com demência também são afetados por isso. É doloroso para eles quando não conseguem se conectar com um ente querido. Quando a linguagem não é mais possível, a música lhes dá uma ponte entre si”, explicou Borna Bonakdarpour, principal autor do estudo.
O experimento foi feito com 29 participantes divididos em um grupo de intervenção — que recebeu o experimento — e um de controle — que não recebeu nenhuma interação musical. Por 12 sessões ao longo de três meses, o grupo de intervenção participou de uma atividade musical com duração de 45 minutos.
A dinâmica consistia na apresentação de uma banda ao vivo que tocou músicas conhecidas na juventude dos participantes e um treinamento foi feito com cada dupla — um paciente e um cuidador — para dizer como poderiam interagir no momento.
Instrumentos musicais simples, como pandeiros e chocalhos, foram distribuídos para cada participante para acompanharem a música. Além disso, as duplas contaram com a presença de musicoterapeutas que incentivaram e auxiliaram no envolvimento das duplas na atividade. Em alguns casos, os pacientes com demência tocaram bateria, cantaram e dançaram.
Na sequência, uma conversa em grupo foi provocada, para falar sobre a experiência e outros temas livres. A constatação dos pesquisadores é que, ao fim de cada sessão, os pacientes com demência estavam mais sociáveis e conectados, faziam mais contato visual, tinham menos distrações durante a conversa, estavam menos agitados e com bom humor.
Por outro lado, o grupo de controle, que não participou das atividades musicais e foi submetido aos cuidados diários regulares do local, não apresentou nenhuma mudança no período.
A música permanece no cérebro mesmo após o esquecimento
“Os pacientes foram capazes de se conectar com os parceiros por meio da música, uma conexão que não estava disponível para eles verbalmente”, constatou Bonakdarpour. O pesquisador explica que a música tocada provoca a memória musical dos pacientes, "que permanecem no cérebro, mesmo quando a fala e outras memórias desaparecem na demência".
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"Isso ocorre porque as regiões do cérebro que estão envolvidas na memória e no processamento musical, como o cerebelo, não são tão afetadas pela doença de Alzheimer ou demência até muito mais tarde no curso da doença. Assim, os pacientes podem manter a capacidade de dançar e cantar muito depois de sua capacidade de falar ter diminuído", detalha o autor.
Depois das intervenções, os pacientes que não conseguiam mais se comunicar passaram a interagir com os cuidadores por meio dos instrumentos e da dança, mostrando um alto nível de sociabilidade. Após três sessões, os cuidadores convidaram a família para participar das atividades musicais e o elo entre os entes queridos voltou a se fortalecer.
"Tornou-se uma experiência normalizadora para toda a família. Todos podiam se relacionar com seus entes queridos, independente do grau de demência. Essas mudanças também se generalizaram em seu comportamento fora das sessões", contou Jeffrey Wolfe, terapeuta musical neurológico do Instituto de Terapia através das Artes (Ita), parceiro da Universidade de Northwestern no estudo.
Agora, os pesquisadores querem ampliar o experimento para outros grupos de pessoas com demência para analisar se a taxa de sucesso permanecerá com pacientes em outras regiões demográficas e de realidades diferentes.
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