Duas doses de psilocibina, um composto encontrado em cogumelos psicodélicos, reduz o consumo excessivo de álcool em 83% entre bebedores pesados quando combinados com psicoterapia, mostra um novo estudo publicado na revista Jama Psychiatry. Liderada por cientistas da Universidade de Nova York (NYU), a pesquisa envolveu 93 homens e mulheres com dependência de álcool. Eles foram aleatoriamente designados para receber a substância ativa ou um placebo anti-histamínico.
Dentro de um período de oito meses desde o início do tratamento, aqueles que receberam psilocibina reduziram o consumo pesado em 83% em relação à fase anterior ao estudo. Enquanto isso, os que tomaram anti-histamínico tiveram uma diminuição no hábito de 51%. Entre as outras descobertas importantes, o estudo mostrou que oito meses após a primeira dose, quase metade (48%) dos participantes do composto psicodélico pararam de beber completamente, em comparação com 24% do grupo placebo.
"Nossas descobertas sugerem fortemente que a terapia com psilocibina é um meio promissor de tratar o transtorno do uso de álcool, uma doença complexa que provou ser notoriamente difícil de gerenciar", diz o autor e psiquiatra sênior do estudo, Michael Bogenschutz, do Centro Langone para Medicina Psicodélica da NYU.
De acordo com os autores, pesquisas anteriores já haviam identificado o tratamento com psilocibina como um meio eficaz de aliviar a ansiedade e a depressão em pessoas com as formas mais graves de câncer. Além disso, estudos prévios de Bogenschutz sugeriram que a substância poderia servir como uma terapia potencial para o transtorno do uso de álcool e outros vícios.
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Método
O novo estudo é o primeiro controlado por placebo a explorar a psilocibina como tratamento para o consumo excessivo de álcool, de acordo com os autores. Para a investigação, a equipe recrutou homens e mulheres que foram diagnosticados com dependência de álcool com base em definições padrão e consumiram em média sete unidades de bebida por ocasião. Quarenta e oito pacientes receberam pelo menos uma dose e até três doses de psilocibina, e, para 45 participantes, foi administrado o anti-histamínico.
Todos participaram de até 12 sessões de psicoterapia. Essas ocorreram antes e depois dos tratamentos com a substância psicodélica. Então, os participantes tiveram de relatar a porcentagem de dias de consumo excessivo de álcool durante as semanas cinco a 36 do estudo. Eles também forneceram amostras de cabelo e unhas para confirmar que não haviam bebido.
Os voluntários, incluindo os do grupo placebo, passaram, ainda, por uma terceira sessão de psilocibina para garantir que aqueles que anteriormente tomaram o anti-histamínico tivessem a chance de serem tratados com a droga psicodélica. "À medida que a pesquisa sobre o tratamento psicodélico cresce, encontramos mais aplicações possíveis para condições de saúde mental", relata Bogenschutz. "Além do transtorno por uso de álcool, essa abordagem pode ser útil no tratamento de outros vícios, como tabagismo e abuso de cocaína e opióides".
Bogenschutz diz que a equipe de pesquisa planeja realizar um estudo multicêntrico maior. Ele adverte que mais trabalhos precisam ser feitos para documentar os efeitos da psilocibina e esclarecer a dosagem apropriada, antes que a droga esteja pronta para uso clínico generalizado. O cientista observa que os pesquisadores já iniciaram esses testes.
A psilocibina é um composto natural derivado de fungos com qualidades que alteram a mente semelhantes ao que fazem, o LSD e a mescalina. A maioria dos participantes do estudo afirmou ter experimentado alterações profundas na percepção, emoções e senso de si mesmo, muitas vezes incluindo sensações que são consideradas de grande significado pessoal e espiritual por eles.
Como a droga aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca e pode causar efeitos psicológicos incapacitantes e às vezes graves, os pesquisadores alertam que ela só deve ser usada em ambientes cuidadosamente controlados e em conjunto com avaliação e preparação psicológica.
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