ANFÍBIOS

Sapos desenvolveram maior capacidade cognitiva para escapar de predadores

Um estudo mostra que esses anfíbios desenvolveram uma capacidade de analisar o ambiente e escolher qual a melhor rota de fuga: um "voo" ou uma camuflagem

Talita de Souza
postado em 17/08/2022 17:58 / atualizado em 17/08/2022 17:59
 (crédito: Chuan Chen)
(crédito: Chuan Chen)

Conhecidos pela agilidade e a capacidade de grandes saltos, os sapos se tornaram conhecidos como os anfíbios escorregadios capazes de se camuflar em diferentes ambientes. As habilidades que parecem ser comuns foram desenvolvidas por esses animais ao longo de centenas de anos, frutos de uma evolução focada em um membro essencial para ajudá-los a escapar de predadores: o cérebro.

A constatação é do grupo de pesquisadores da Universidade de Zurique, que analisou 102 espécies de sapos que vivem na China e descobriu uma relação direta entre a evolução do cérebro dos animais e as diferentes estratégias para fugir de preparadores. A análise foi publicada pelo grupo na revista Science, nesta quarta-feira (17/8).

O cérebro aumentado, reflexo de uma capacidade cognitiva mais aguçada, auxilia o animal a estabelecer a melhor forma de fuga, de acordo com o perigo pressentido por ele. Ou seja: animais originados em florestas ou campos com menor número de predadores, costumam optar sempre por se deslocar do local em que o perigo está.

Esses desenvolveram, também, uma musculatura mais forte nas patas traseiras, capazes de dar grandes impulsos e os fazerem “voar” por alguns centímetros. Assim, o objetivo de fugir de forma rápida e eficaz é atingido.

No entanto, a evolução física não era suficiente para auxiliar aqueles sapos que estão em ambientes com muitos animais que querem devorá-los. Isso porque uma fuga poderia levá-lo a um local com outro predador e assim sucessivamente. Dessa forma, o sapo gastaria maior energia física e cognitiva, o que não o ajudaria a estar alerta para possíveis novos ataques.

“Sob essas condições desfavoráveis, os custos cognitivos necessários para essa estratégia superam seus benefícios. Aqui, a evolução levou a uma mudança gradual da evasão cognitiva do predador para a camuflagem – e, portanto, cérebros menores”, pontuou Stefan Lupold, biólogo evolutivo e um dos principais autores do estudo.

Assim, parte das espécies que habitam em locais de maior perigo, desenvolvem o “superpoder” de se camuflar. Elas apresentam cérebros menores, mas continuam a ter uma capacidade cognitiva suficiente para discernir e optar, também, por fugir em alguma ocasião.

“Isso sugere que a camuflagem não é necessariamente uma estratégia primária ideal, como muitas vezes se acredita, mas pode ser uma adaptação secundária”, define o relatório. Para o estudo, os pesquisadores analisaram sapos no habitat natural, anotaram as formas de fuga de cada espécie — correr ou se camuflar — e, depois, dissecaram os animais de cada espécie para relacionar o tamanho do cérebro e as musculaturas da pata — além de uma análise filogenética.

Para os pesquisadores, o que ajudou os sapos a desenvolverem a capacidade e a entenderem qual rota optar em cada situação são os custos metabólicos e os benefícios cognitivos. Em outras palavras, esses anfíbios preferem o que lhes dará menos trabalho e cansaço.

Agora, os pesquisadores querem determinar se a capacidade cognitiva também é presente nas rãs e se é ela que faz com que ela escolha entre fugir ou liberar o veneno quando se sente ameaçada. Além disso, os sapos ainda estarão no alvo do grupo de estudo para analisar se outros comportamentos são alterados pela capacidade cognitiva e a relação com o ambiente em que esses animais estão.

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