Pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciências, em Israel, desenvolveram embriões sintéticos de camundongos fora do útero a partir de células-tronco cultivadas em uma placa de Petri — ou seja, sem o uso de óvulos fertilizados. O método, testado pela primeira vez, abre novos horizontes para estudar como essas estruturas formam os órgãos no ser vivo em desenvolvimento e, segundo os cientistas, pode, um dia, levar à criação de tecidos e órgãos para transplante a partir de modelos artificiais.
No estudo, publicado na revista Cell, os pesquisadores pretrataram células-tronco por 48 horas para expressar em dois tipos de genes: reguladores da placenta ou do saco vitelino. "Demos a elas um impulso para dar origem a tecidos extraembrionários que sustentam o embrião em desenvolvimento", disse, em nota, Jacob Hanna, do Departamento de Genética Molecular de Weizmann, que liderou a equipe.
Logo após serem misturados dentro de um dispositivo desenvolvido pelos pesquisadores, as células se reuniram em agregados, a grande maioria dos quais não conseguiu se desenvolver adequadamente. Mas cerca de 0,5% (50 em 10 mil) passou a formar esferas, cada uma das quais mais tarde se tornou uma estrutura alongada semelhante a um embrião.
Os modelos sintéticos se desenvolveram normalmente até o dia 8,5 — quase metade da gestação de 20 dias do camundongo. Trata-se do estágio em que todos os progenitores de órgãos iniciais se formaram, incluindo um coração pulsante, circulação de células-tronco sanguíneas e um cérebro com dobras bem formadas. Quando comparados com embriões naturais de camundongos, os artificiais apresentaram uma semelhança de 95% tanto na forma das estruturas internas quanto nos padrões de expressão gênica de diferentes tipos de células.
"É um feito impressionante e que pode abrir diversos horizontes. Muitos dos avanços na medicina, de tratamento, de conhecimento, provêm da pesquisa básica, como desse embrião sintético. Agora, precisamos acompanhar para ver se realmente terá aplicabilidade clínica", avalia Hitomi Miura Nakagawa, ginecologista e membro da Diretoria da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (Sbra).
A médica lembra que, embora o uso de células-tronco embrionárias humanas seja permitido em vários países, como o Brasil, existem questões éticas e ideológicas por trás dessa questão. "É claro que ainda há um longo caminho a ser percorrido. É um primeiro passo. Se você não usa células-tronco de embrião fecundado, cujos resultados de pesquisa foram frustrantes, pode ser que aumente a aceitação pela sociedade dos futuros tratamentos advindos dessas iniciativas", observa.
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