Jornal Correio Braziliense

Dessalgando o paladar

Apesar das evidências dos malefícios do excesso de sal para a saúde, não é fácil restringir o consumo, pois ele é um dos temperos mais usados no mundo. "Uma das principais barreiras para manter uma dieta com baixo teor de sódio é que as pessoas não gostam do sabor da comida sem sal", destaca Misook Chung, pesquisadora de enfermagem e nutrição da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos.

No mês passado, durante o Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, Chung apresentou um estudo mostrando que uma intervenção de adaptação do paladar pode ajudar a diminuir a ingestão do sódio sem influenciar no prazer de comer. "Nosso estudo piloto em pacientes com pressão alta mostra que é possível mudar a percepção do paladar e aprender a gostar de alimentos com menos sal", diz. A hipertensão afeta mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo e é a principal causa global de morte prematura.

Os pesquisadores desenvolveram o Programa de Vigilantes de Sódio para ajudar os participantes a se adaptarem gradualmente a alimentos com baixo teor de sal. Vinte e nove adultos com hipertensão foram divididos em grupos, aleatoriamente. Parte recebeu o tratamento habitual, com conselhos dietéticos e prescrição de medicamentos. A outra entrou na intervenção educativa de 16 semanas, sendo acompanhada por uma enfermeira por videochamadas.

As sessões foram realizadas semanalmente, durante um mês e meio, passando para uma vez em 15 dias nas 10 semanas seguintes. Os participantes receberam um dispositivo eletrônico que detecta o teor de sal para que pudessem identificar e evitar alimentos com alto teor do ingrediente. "Um dos primeiros passos foi os pacientes perceberem quanto sal estavam comendo. Usando o dispositivo eletrônico, eles poderiam testar o teor de sal das refeições do restaurante e pedir ao chef para reduzir ou eliminar o sal na próxima visita. Em três semanas, a maioria dos participantes removeu o saleiro da mesa", revela Chung.

Todos os participantes que entraram no grupo da intervenção forneceram uma amostra de urina a cada 24 horas para avaliar a ingestão de sódio e mediram a pressão arterial. Além disso, a preferência por alimentos salgados e o prazer de uma dieta com restrição de sal foram avaliados em uma escala de 10 pontos. Segundo Chung, a redução gradativa do nutriente levou "a uma diminuição significativa na ingestão de sódio e aumentou o prazer da dieta restrita em sal".

A pesquisa mostrou que a ingestão de sódio caiu 1.158mg por dia, o que representou uma redução de 30% em relação ao início do programa. Enquanto isso, no grupo controle, houve acréscimo de 500mg no consumo por dia. "O prazer de uma dieta com baixo teor de sal aumentou no grupo de intervenção, de 4,8 para 6,5 em uma escala de 10 pontos, embora os pacientes ainda preferirem alimentos salgados", destaca a pesquisadora. (PO)