Do ponto de vista científico, elas não trouxeram grandes novidades. Mas as quatro imagens divulgadas ontem pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) revelam um Universo como nunca se viu. Cuidadosamente escolhidas por um comitê de cientistas, as fotos dão uma pequena amostra do que o mais potente telescópio espacial da história tem a revelar. O James Webb "clicou" objetos já conhecidos, permitindo comparar as informações com as obtidas anteriormente por outros instrumentos.
"Cada imagem é uma nova descoberta", declarou, durante a apresentação, o diretor da Nasa, Bill Nelson. "Cada uma dará à humanidade uma visão do Universo que nunca vimos antes." No dia anterior, a agência divulgou a imagem inédita de galáxias formadas muito pouco tempo depois do Big Bang, há quase 14 bilhões de anos. Coube ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a honra de revelá-la ao mundo. Ontem, em um evento transmitido em tempo real pela internet, Nelson mostrou as quatro fotos restantes. Duas nebulosas, um exoplaneta e um aglomerado de galáxias.
A 7,6 mil anos-luz da Terra, a nebulosa de Eta Carina foi escolhida para demonstrar o processo de formação estelar. Já a nebulosa do Anel do Sul dá uma boa mostra do que ocorrerá com o Sol daqui a bilhões de anos: trata-se de uma enorme nuvem gasosa ao redor de uma estrela moribunda. O agrupamento Quinteto de Stephen, a 290 milhões de anos-luz de distância, ilustra a interação entre diferentes galáxias. Por fim, a imagem do exoplaneta Wasp-96 não é propriamente uma fotografia: ela demonstra a capacidade do James Webb de identificar, pela técnica da espectroscopia, a composição química de um objeto distante.
Se as imagens coloridas e repletas de detalhes impressionam os leigos, a verdade é que, da forma como foram apresentadas, elas têm pouca serventia científica. "Para o cientista, não é isso que importa. Estamos interessados em informações como a concentração de elementos químicos, a temperatura de um objeto etc. É como um grande mapa: você clica nos detalhes e ele dá informações sobre aquela localidade", compara o astrônomo e comunicador científico Naelton Mendes de Araújo, da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro.
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Códigos decifrados
As fotos, aliás, não são bem como se imagina. "Não são fotos como se faz com o celular", esclarece o astrônomo. O que o James Webb capta são dados, enviados em forma de códigos e, então, decifrados por computadores. As cores também são ilustrativas, acrescentadas pelos cientistas. Afinal, o supertelescópio não enxerga a luz visível. Ele vê bem além disso, no infravermelho.
Pode parecer decepcionante mas, na verdade, essa é a grande vantagem do equipamento de US$10 bilhões: as abundantes camadas de poeira e gás que, até agora, escondiam objetos celestiais, são penetradas pelo instrumento óptico. O James Webb enxerga o que ninguém jamais viu. Com isso, a expectativa é de que ele seja um marco na astrofísica, ajudando a confirmar ou derrubar teorias, a decifrar a composição de planetas e galáxias distantes e, potencialmente, a revelar objetos novos para a humanidade. "Ele permite olhar cada vez mais longe, e o passado cada vez mais distante", resume Naelton Mendes de Araújo.
O James Webb foi lançado há seis meses da Guiana Francesa. Ele é fruto de um projeto de colaboração internacional, iniciado na década de 1990. O supertelescópio está a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. "Com ele, podemos ver mais longe do que nunca, podemos ver mais que nunca, podemos estar mais perto do nosso próprio berço no Universo", comentou o brasileiro Paulo de Souza Júnior, ex-colaborador da Nasa e atual reitor de pesquisa da Griffith Sciences, na Austrália.