A crescente incidência de uma enfermidade no fígado potencialmente causadora de câncer em crianças está associada à exposição pré-natal a vários produtos químicos desreguladores endócrinos, segundo pesquisadores do Instituto de Monte Sinai, nos EUA. Esse é o primeiro estudo abrangente sobre a associação entre a chamada doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e a mistura de substâncias comuns no cotidiano, como plástico e pesticidas.
Os pesquisadores usaram a citoqueratina-18 como um novo marcador para a doença em crianças. As descobertas, relatadas na revista Jama, destacam a importância de entender a exposição pré-natal a produtos químicos ambientais como um fator de risco para DHGNA, disseram os autores. Trata-se de um problema de rápido crescimento em pacientes pediátricos, que pode levar à doença hepática crônica grave e ao câncer de fígado na idade adulta.
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Desreguladores
"Todos estamos diariamente expostos a esses produtos químicos por meio dos alimentos que consumimos, a água que bebemos e o uso de bens de consumo em geral", destacou Damaskini Valvi, autor sênior do estudo. "Trata-se de um grave problema de saúde pública. Essas descobertas mostram que a exposição precoce a muitos produtos químicos desreguladores endócrinos é um fator de risco para doença hepática gordurosa não alcoólica pediátrica e chamam a atenção para investigações adicionais necessárias para elucidar como as exposições químicas ambientais podem interagir com fatores genéticos e de estilo de vida na patogênese da doença."
A DHGNA é uma das doenças hepáticas mais comuns em todo o mundo e é cada vez mais diagnosticada na infância, afetando de 6% a 10% da população pediátrica geral, e aproximadamente 34% das crianças com obesidade. Os produtos químicos desreguladores endócrinos são uma ampla classe de poluentes ambientais que incluem vários pesticidas, plásticos, retardadores de chama e metais tóxicos. Essas substâncias interferem nos sistemas hormonais e metabólicos. Vários estudos experimentais mostraram que a exposição a elas pode provocar lesões hepáticas, mas os efeitos pré-natais não haviam sido estudados em humanos.
Os pesquisadores mediram níveis de 45 produtos químicos no sangue ou na urina de 1.108 mulheres grávidas, entre 2003 a 2010. Quando as crianças atingiram as idades de 6 a 11 anos, os cientistas mediram as taxas de enzimas e citoqueratina-18 que indicam risco de doença hepática, encontrando quantidades elevadas desses biomarcadores naquelas mais expostas ao durante a gravidez. "Ao compreender os fatores ambientais que aceleram a doença hepática gordurosa, podemos reduzir o risco das pessoas, fornecendo-lhes informações para fazer escolhas que reduzem o risco ou o impacto da doença", disse Robert Wright, do Departamento de Medicina Ambiental e Saúde Pública do Monte Sinai.