Nas prateleiras das farmácias, dezenas de suplementos nutricionais com composições e doses diversas atraem a atenção do consumidor, que, muitas vezes, compra esses produtos sem indicação médica. Porém, o excesso de substâncias que, quando necessárias, são benéficas pode prejudicar a saúde. Um estudo publicado ontem na revista The British Medical Journal relatou o caso de um homem que precisou ser internado porque sofreu uma "overdose" de vitamina D.
A hipervitaminose D é uma condição conhecida e potencialmente grave que está em crescimento, segundo os autores. No artigo, eles relatam o caso de um homem de meia-idade que foi encaminhado ao hospital pelo médico de família ao se queixar de vômitos recorrentes, náuseas, dor abdominal, cãimbras nas pernas, zumbido nos ouvidos, boca seca, aumento de sede, diarreia e perda de peso acentuada. Os sintomas o incomodavam havia três meses e tiveram início depois que ele começou a usar um conjunto de suplementos vitamínicos, aconselhado por um terapeuta nutricional.
Segundo os autores do estudo, o homem estava consumindo altas doses de mais de 20 suplementos de venda livre todos os dias. O kit continha vitamina D 50.000mg (a necessidade diária é de 600mg ou 400UI), vitamina K2 100 mg (necessidade diária de 100 a 300g), vitamina C, vitamina B9 (folato) 1.000 mg (necessidade diária de 400g), vitamina B2 (riboflavina), vitamina B6, ômega-3 2.000mg duas vezes ao dia (necessidade diária de 200 a 500 mg), além de vários outros suplementos vitamínicos, minerais, nutrientes e probióticos.
Uma vez que os sintomas se desenvolveram, ele parou de tomar o coquetel, mas as complicações não desapareceram. Os resultados dos exames revelaram que ele tinha níveis muito elevados de cálcio e taxas ligeiramente altas de magnésio. A concentração de vitamina D estava sete vezes acima do nível necessário. Os testes também indicaram que os rins do paciente não estavam funcionando corretamente.
O homem ficou no hospital por oito dias, durante os quais recebeu fluidos intravenosos para limpar o organismo. Dois meses após a alta, o nível de cálcio voltou ao normal, mas o de vitamina D ainda estava anormalmente elevado. "Globalmente, há uma tendência crescente de hipervitaminose D, uma condição clínica caracterizada por níveis séricos elevados de vitamina D3, com mulheres, crianças e pacientes cirúrgicos mais propensos a serem afetados", escrevem os autores. As taxas recomendadas de vitamina D podem ser obtidas a partir da dieta (por exemplo, com o consumo de cogumelos selvagens e peixes oleosos), da exposição à luz solar e de suplementos.
Os sintomas da hipervitaminose D são muitos, variados e são causados principalmente pelo excesso de cálcio no sangue. Eles incluem sonolência, confusão, apatia, psicose, depressão, estupor, coma, anorexia, dor abdominal, vômitos, constipação, úlceras pépticas, pancreatite, pressão alta, ritmo cardíaco anormal e anomalias renais, incluindo insuficiência aguda do órgão. Outras características associadas, como ceratopatia (doença inflamatória ocular), rigidez articular (artralgia) e perda auditiva ou surdez, também foram relatadas, acrescentam os autores.
"Um nível adequado de vitamina D no corpo é crucial para nossa saúde geral, muito pouco pode levar ao raquitismo ou ao desenvolvimento de osteoporose, mas, em excesso, pode levar a um aumento nos níveis de cálcio no sangue, o que pode ser particularmente prejudicial", destaca Sue Lanham-New, chefe do Departamento de Ciências Nutricionais da Universidade de Surrey, no Reino Unido, que não participou do estudo atual. Ela liderou outra pesquisa, motivada por informações de que essa substância ajudaria a combater covid-19, sem encontrar evidências científicas de que a afirmação seja verdadeira.
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