A endotermia, ou o sangue quente, é a capacidade de mamíferos e aves de produzir calor corporal e controlar a própria temperatura. Até agora, não se sabia exatamente quando essa característica que os sustentam em quase todos os ecossistemas havia se originado. Um estudo divulgado na última edição da revista Nature sugere que ela apareceu ao menos 33 milhões de anos antes do surgimento dos primeiros mamíferos.
"Pela primeira vez, somos capazes de rastrear através da evolução a consequência direta da origem da endotermia na anatomia esquelética de nossos ancestrais pré-mamíferos. Este é um momento emocionante para o nosso campo de estudo", afirma Julien Benoit, pesquisador sênior em paleontologia do Evolutionary Studies Institute, da Wits University, na África do Sul, e integrante da equipe internacional de cientistas que fez a descoberta.
Esse tipo de análise esbarra na dificuldade da identificação da temperatura corporal em animais antigos. "O problema é que não se pode usar termômetros em fósseis. Então, não podemos calcular a temperatura corporal deles", explica Ricardo Araujo, pesquisador da Universidade de Lisboa, em Portugal, e um dos autores do estudo.
A equipe apostou em uma metodologia que consiste na análise dos canais semicirculares do ouvido interno. Como acontece hoje, esses minúsculos condutores, por onde circulam um fluido, são essenciais para manter o equilíbrio. O aumento da temperatura faz com que o fluido fique mais leve, o que foi levando os canais internos a se tornarem mais estreitos, explica Araujo.
Foi essa característica a que o grupo ficou atento ao analisar os canais semicirculares do ouvido interno de 56 espécies extintas de ancestrais dos mamíferos. "(O método) pode medir seu ouvido interno e dizer com precisão o quão quente está seu sangue", explica, à agência France-Presse de notícias (AFP), Romain David, do Museu de História Natural de Londres, também integrante do grupo. A abordagem indica que o aquecimento do sangue teria começado há 233 milhões de anos, ou seja, no fim do período Triássico.
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Rapidez
Essa nova data é consistente com recentes descobertas de que muitas das características geralmente associadas à "mamificação", como o surgimento de bigodes e peles distintas, também evoluíram mais cedo do que o imaginado. Outra constatação feita pelo grupo é de que a transição evolutiva para o sangue quente foi inesperadamente rápida em termos geológicos: durou menos de 1 milhão de anos.
Acredita-se que os ancestrais dos mamíferos foram desenvolvendo a endotermia à medida que a Terra. "Essa característica permite ser mais independente do clima, correr mais rápido e por mais tempo, explorar diferentes habitats, como as regiões polares, ou à noite, e realizar grandes migrações", explica David. "Houve muitas inovações naquela época que começaram a definir o que é um mamífero e, eventualmente, o que seria um ser humano."
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