Multimorbidade tem fator socioeconômico

Correio Braziliense
postado em 14/07/2022 06:00
 (crédito: Silvio Avila/AFP)
(crédito: Silvio Avila/AFP)

A multimorbidade — condição caracterizada pela presença de doenças concomitantes numa mesma pessoa — surge, em média, 10 anos antes em indivíduos que se encontram em vulnerabilidade social. Um estudo internacional publicado na revista Nature Reviews Disease Primers, com a participação de pesquisadores brasileiros, destaca que esse é um problema de saúde pública global, relacionado diretamente a fatores socioeconômicos.

"A multimorbidade está diretamente associada com determinantes de piora de qualidade de vida, como marcadores do envelhecimento, inflamação crônica, hábitos de vida (atividade física, dieta, tabagismo) e efeitos de remédios (como interações medicamentosas)", afirmou à Agência Bori Bruno Pereira Nunes, professor da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande Sul, e coautor do estudo. O artigo traz as evidências na literatura sobre o tema, por meio de uma revisão bibliográfica, e organiza as informações como prevalência, epidemiologia e manejo desse fenômeno.

Além da relação com a vulnerabilidade socioeconômica, o artigo demonstrou a urgência de mais produções científicas a respeito do assunto, destaca o pesquisador. De acordo com Nunes, os mecanismos que impactam a multimorbidade são amplos, complexos e demandam uma atenção especial dos tomadores de decisão, uma vez que a estrutura social, de distribuição de renda e de bens tem papel importante na forma como a saúde dos indivíduos e da sociedade é afetada.

Covid

De acordo com a pesquisa, a pandemia de covid-19 repercutiu nas questões de multimorbidade. Se, antes da crise sanitária, afirma Bruno Nunes, esses pacientes já enfrentavam desafios, após o curso da pandemia, essa situação parece ter se agravado, principalmente para pessoas que precisam consultar diferentes serviços e profissionais de saúde para lidar com suas doenças.

"Os problemas de saúde podem ter se agravado e novas doenças podem ter surgido, como depressão e ansiedade, em razão da pandemia e sua condução pelos países", analisa Nunes.

O pesquisador também afirma que o risco de agravamento da infecção pelo vírus Sars-CoV-2 é maior em pessoas com multimorbidade, tornando a carga para enfrentar a pandemia maior entre essas pessoas. Ainda, países que tiveram um enfrentamento ruim da covid-19, como o Brasil, prolongaram a pandemia e suas consequências de forma desnecessária, causando mais desgaste para esses pacientes.

Pela urgência em se compreender melhor esse fenômeno e traçar estratégias mais efetivas de manejo, mais estudos são necessários, já que a falta de evidências sobre o assunto desafia toda a rede de cuidado, como profissionais, serviços e sistemas de saúde, ressalta Nunes. "Vale lembrar que o cuidado às pessoas com multimorbidade passa por uma atenção integral, humanizada, equitativa e longitudinal, com foco na atenção primária à saúde na coordenação da rede de cuidados." No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Estratégia Saúde da Família são, na avaliação do pesquisador, capazes de fornecer a atenção para toda a população, "desde que tenham as condições adequadas para isso, incluindo financiamento e gestão de qualidade", finaliza.

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