Um grupo de pesquisadores da Universidade de Toronto descobriu águas subterrâneas de 1,2 bilhão de anos nas profundezas de uma mina produtora de ouro e urânio em Moab Khotsong, na África do Sul. Na água e nas rochas do local foram encontrados elementos radioativos e grandes quantidades de hélio e hidrogênio, elementos essenciais para a criação e manutenção de seres vivos.
Na avaliação dos cientistas, a descoberta contribui para entender como formas de vida sobrevivem sem acesso à energia do Sol — assim como foram registradas nas profundezas da Terra, as reações químicas encontradas podem sugerir que o processo de criação desses geradores de vida também podem ser realizados em outros planetas que não possuem as condições ideais de iluminação solar para manter organismos vivos.
Além disso, constatar que altos níveis de hélio são difundidos “nas profundezas da Terra” é um passo importante, “à medida que as reservas globais do elemento se esgotam e a transição para recursos mais sustentáveis ganha força”.
“Pense nisso como uma Caixa de Pandora de poder de produção de hélio e hidrogênio, que podemos aprender a aproveitar para o benefício da biosfera profunda em escala global”, exemplifica Oliver Warr, pesquisador associado do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Toronto e autor principal do estudo, que foi publicado em 4 de julho na revista Nature Communications.
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Presença de urânio
O material analisado mostrou a presença de urânio e outros elementos radioativos na rocha da mina, substâncias que são, nesse ambiente, uma espécie de “fósforo” que acende um processo chamado de reações radiogênicas nas rochas e fluidos que circundam essas rochas nas profundezas subterrâneas.
Quando o urânio, tório e potássio decaem na superfície rochosa, cria-se uma radiação alfa, beta e gama que tem efeitos de ondulação que desencadeiam reações radiogênicas. De acordo com os pesquisadores, na mina da África do Sul, essas reações são responsáveis pelo aparecimento de hélio radiogênico, néon, argônio e xenônio; além de uma presença sem precedentes de um isótopo de criptônio, nunca antes visto nessas condições.
Além disso, o estudo revelou que a radiação também “quebra as moléculas de água em um processo chamado radiólise, produzindo grandes concentrações de hidrogênio, uma fonte de energia essencial para as comunidades microbianas subterrâneas nas profundezas da Terra que são incapazes de acessar a energia do sol para a fotossíntese”. O hidrogênio é um dos quatro elementos essenciais, de acordo com especialistas, para a criação e manutenção de um ser vivo.
“Como as reações radiogênicas produzem hélio e hidrogênio, podemos não apenas aprender sobre reservatórios e transporte de hélio, mas também calcular o fluxo de energia de hidrogênio da Terra profunda que pode sustentar micróbios subterrâneos em escala global”, diz Warr.
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