A premissa do estudo realizado no Brasil e de repercussão internacional é a de que a redução do equilíbrio está associada a um pior prognóstico em saúde. Ao testar esse tese, o carioca Claudio Gil Araújo — médico do exercício e do esporte e diretor de Pesquisa e Educação da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex) — chegou à conclusão de que a incapacidade de permanecer equilibrado em uma única perna por 10 segundos para pessoas entre 51 e 75 anos de idade pode aumentar em até quatro vezes o risco de morte, por qualquer causa, dentro de sete anos. A pesquisa de Araújo e colaboradores foi publicada ontem pelo British Journal of Sports Medicine.
"Nós testamos essa premissa e confrontamos o nosso resultado com os dados vitais dos pacientes", explicou ao Correio o principal autor do estudo. A intenção foi justamente verificar a associação entre o equilíbrio estático e o risco de morte. Desde 1994, foram avaliadas 10 mil pessoas na Clinimex — uma clínica privada e especializada em Medicina do Exercício e do Esporte, sediada em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Ao longo desses 28 anos, os especialistas se concentraram em uma ampla amostra, numa faixa etária que compreende dos 6 aos 102 anos. Dois terços da amostra eram formados por homens, com condições clínicas e físicas bastante variadas. "Avaliamos desde pessoas muito doentes, em pós-transplante cardíaco, até atletas de alto rendimento. Isso torna a nossa coorte (amostra) bastante única", afirmou Araújo.
Os pesquisadores se focaram na aptidão física aeróbica e na não aeróbica — força e potência musculares, flexibilidade, equilíbrio e composição corporal. Um dos instrumentos utilizados nas avaliações foi um teste desenvolvido pela equipe de Araújo, na década de 1990, chamado de sitting-rising test ("teste de sentar-levantar"). "Publicamos estudos mostrando que os resultados insuficientes no teste de sentar-levantar estavam associados a uma maior mortalidade. Agora, começamos a analisar, componente por componente. Nosso estudo mais recente avaliou o equilíbrio estático", disse Araújo. Tal componente costuma manter-se bem preservado até entre 50 e 60 anos, quando começa a diminuir de forma bem rápida.
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Acompanhamento
No novo estudo, foram selecionados indivíduos de 51 a 75 anos que tinham sido submetidos a uma avaliação bastante ampla, supervisionados por quatro médicos da Clinimex. O acompanhamento teve o objetivo de elevar o controle de qualidade do estudo. "Fizemos análises estatísticas altamentes sofisticadas no grupo dessa faixa etária, com apoio dos colegas Setor Kunutsor (Universidade de Bristol, Reino Unido), Jari Laukannen (Universidade de Jyväskylä, Finlândia) e Jonathan Myers (Universidade de Stanford, EUA). Mesmo com a ressalva de que todo estudo de associação não envolve causa e efeito, vale destacar que há uma forte ligação, ainda que não possamos provar, de que a redução de equilíbrio tenha levado à morte", disse Araújo.
Desde 2008, os cientistas da Clinimex aplicaram o Teste de Equilíbrio Unipodal de 10 segundos (veja foto) em pelo menos 4 mil indivíduos. Desde então, constataram que, entre aquelas pessoas sem doenças neurológicas ou distúrbios da marcha e que não conseguiram completar o teste, a mais jovem tinha 38 anos, enquanto a mais velha que completou com sucesso foi uma senhora de 91 anos.
Segundo o principal autor, a presença concomitante de diabetes tipo 2 foi uma das variáveis que dificultaram que indivíduos conseguissem se equilibrar em um dos pés por 10 segundos. "A diabetes é uma doença que afeta o sistema neurológico. Tanto o Sistema Nervoso Central quanto o Sistema Nervoso Periférico são atingidos por ela. Então, pode ser que o indivíduo não esteja ainda manifestando tão claramente um quadro de prejuízo neurológico, mas isso pode significar que ele não consegue se equilibrar mais com tanta facilidade", comentou Araújo.
Os cientistas descobriram que a taxa de morte foi quase quatro vezes maior, num tempo mediano de sete anos de seguimento, entre os indivíduos que falharam no teste: 17,5%, em comparação com 4,6% que o completaram. Quando os médicos ajustaram a pesquisa para fatores que poderiam confundir o resultado — obesidade, índice de massa corporal elevada, doenças coronarianas, hipertensão ou níveis elevados de colesterol —, perceberam que a chance de morrer entre os que não concluíram o teste foi de 84% maior.