A bactéria Cutibacterium acnes (C.acnes) é a mais abundante da pele humana. Existem diferentes cepas desse micro-organismo; algumas predominam na derme saudável e outras estão associadas à temida acne, doença multifatorial comum em adolescentes, mas que pode acometer pessoas de qualquer idade. Em um estudo publicado na revista Plos Pathogens, cientistas da Universidade Pompeo Farma (UPF), em Barcelona, descrevem uma nova abordagem para eliminar cepas específicas de um patógeno associado a esse processo inflamatório, responsável pela obstrução das glândulas sebáceas.
O microbioma é composto pelos micro-organismos que vivem dentro e fora do corpo. Esta complexa comunidade habita principalmente a pele, a mucosa oral e o trato gastrointestinal. Cada pessoa tem uma composição única e vive em simbiose com ela. Especificamente, o microbioma da pele e da epiderme é composto por vários seres microscópicos, como bactérias, vírus e fungos. Quando o tecido está saudável, há um equilíbrio dessas espécies. Porém, no caso da acne, ocorre uma abundância de certas cepas, levando a um desequilíbrio conhecido como disbiose.
Segundo os pesquisadores espanhóis, o uso de medicamentos como antibióticos não é o ideal para lidar com a acne, pois acabam matando, além de diferentes cepas de C.acnes, outras bactérias da pele, levando à disbiose. Para resolver esse problema, a equipe tentou uma nova abordagem, que consiste em manipular o próprio microbioma para tratar a inflamação, sem provocar desequilíbrio.
A estratégia é baseada em um dos organismos encontrados no microbioma da pele: os bacteriófagos. Trata-se de vírus que infectam bactérias e podem ajudar a regulá-las. "Em nosso estudo, demonstramos que, por meio da chamada terapia bacteriófaga, é possível modular a composição de cepas de C.acnes ao longo do tempo. Podemos reduzir as cepas associadas à acne sem afetar as que têm características benéficas", explica Marc Güell, coordenador do estudo.
Estratégia
Para abordar essas cepas especificamente por meio de bacteriófagos, os cientistas focaram em um mecanismo que as bactérias têm para impedir que sejam infectadas. Porém, só as cepas benéficas apresentam esse sistema de defesa. "Usamos bacteriófagos específicos para atacar cepas patogênicas, que são as que não possuem essa estratégia. As cepas benéficas têm esse sistema defensivo contra os bacteriófagos, portanto, ficam protegidas contra a infecção", explica Nastassia Knödlseder , primeira autora do artigo.
Quanto a aplicações futuras, Nastassia Knödlseder explica: "Poderíamos, por exemplo, usar bacteriófagos para 'limpar' algumas das cepas existentes que habitam a pele. Isso nos permitiria ter mais espaço disponível para incorporar melhor as novas bactérias benéficas", diz. "Este trabalho pode nos ajudar a modular o microbioma de forma mais eficiente, tanto para eliminar cepas indesejadas quanto para facilitar a introdução de novas terapias", conclui.