SUSTENTABILIDADE

Contra pobreza menstrual, jovem paranaense cria absorvente biodegradável

Com apenas 25 anos, Rafaella de Bona Gonçalves concorre ao prêmio "Young Invertors Prize", na Europa, por ter criado absorventes com fibras de bananeira e bambu

Com a perspectiva de agir localmente e em consequência ter impactos globais, Rafaella de Bona Gonçalves, 25 anos, criou absorventes biodegradáveis para pessoas em vulnerabilidade social. A jovem, que mora em Curitiba, é formada em Design de Serviços pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Rafaella guiou-se pela síntese do primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU no Brasil: "Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares". A designer conta que buscou com o projeto — fruto de um curso de extensão — alguma forma de retorno social. "Eu comecei a pesquisar esses outros tipos de pobreza na cidade de Curitiba e me aproximei de organizações que trabalham com pessoas em situação de rua, foi aí que me deparei com o problema da pobreza menstrual", conta a jovem.

Os absorventes sustentáveis desenvolvidos por ela são feitos com fibras de bananeira, celulose, bambu e espuma de soja. "A partir do momento em que você compra um, outro será doado para as pessoas em vulnerabilidade socioeconômica", explica. Rafaella destaca ainda que os itens biodegradáveis de higiene menstrual não são destinados apenas às mulheres em situação de rua, mas também para adolescentes que faltam a escola por não terem absorventes em casa, mulheres que estão em penitenciárias e homens trans. "Na identidade visual do projeto, a gente não quis remeter nada ao feminino, é uma identidade visual agênera", ressalta.

O projeto de Rafaella Gonçalves foi desenvolvido sob a orientação da professora e pesquisadora Gheysa Prado e em parceria com a empresa EcoCiclo, que é focada na elaboração de produtos sustentáveis feitos por mulheres. O item da designer pode ser usado tanto como absorvente externo quanto interno. O protótipo foi lançado em dezembro do ano passado e é intitulado "Eu. Faço Parte".

"Higiene menstrual não é um privilégio, mas um direito", defende a jovem.

 
 
 
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Reconhecimento internacional

"Eu nem me inscrevi na premiação, me acharam e me convidaram", comenta a designer e pesquisadora, em tom de animação, sobre o prêmio Young Invertors Prize, do Instituto Europeu de Patentes (EPO). Rafaella é finalista e concorre com outros dois jovens, uma americana e outro belga. A premiação — destinada a inventores com menos de 30 anos — acontecerá no dia 21 de junho e o vencedor receberá 20.000 euros. "O EPO quer reconhecer jovens inovadores que usam a tecnologia para desenvolver soluções que ajudarão a alcançar esses objetivos sustentáveis e impactar positivamente nossa vida para um futuro melhor", diz o Instituto em comunicado sobre os finalistas.

Além disso, a paranaense já conquistou alguns prêmios internacionais, como o concurso chileno Diseño Responde — Desafio Latinoamericano Índex Award e o alemão iF Design Talent Award. "Quando eu sou finalista ou ganho alguma premiação, eu me sinto muito honrada pela visibilidade que o projeto tomou e de poder estar informando e conscientizando sobre o problema", detalha.

"Eu acredito que eu não sou a designer heroína que traz solução para todos os problemas do mundo, mas sim uma facilitadora desse processo", completa Rafaella. Para o futuro, a jovem deseja ter a própria empresa de design focada em projetos sociais.

Panorama da pobreza menstrual no Brasil

Pobreza menstrual é um termo que significa a falta de recursos para a higiene de pessoas que menstruam. Cerca de 713 mil meninas não têm acesso a chuveiro ou banheiro em casa e mais de 4 milhões não possuem itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas, aponta o relatório Pobreza menstrual no Brasil, realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em 2021. O relatório mostra ainda que aproximadamente 900 mil não têm acesso a água canalizada nos domicílios.

O levantamento Livre para Menstruar, realizado pelo movimento Girl Up no ano passado, revela que um a cada quatro adolescentes não têm acesso a absorventes quando precisam. Tal precariedade impacta diretamente a saúde e a vida social dessas pessoas. Com a ausência de recursos, alguns materiais inadequados são usados para tentar conter o fluxo de sangue no período menstrual, como jornais, pedaços de pano de chão e até miolo de pão.

Cabe ressaltar que a dignidade menstrual — que se opõe à pobreza — é reconhecida desde 2014 como um direito humano e questão de saúde pública mundial. "A menstruação é um processo natural, biológico e que faz parte do desenvolvimento. É uma questão de saúde pública de responsabilidade coletiva", informa a UNICEF.

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