Uma caverna localizada no sul da Espanha foi usada para a produção de obras de arte rupestres e também como área de sepultamento por neandertais. Responsáveis pela descoberta, pesquisadores da Universidade de Cádiz realizaram uma série de análises apuradas no local, já conhecido por especialistas, mas ainda pouco estudado. No resultado do trabalho, publicado na última edição da revista especializada Plos One, os autores calculam que o espaço tenha sido ocupado há mais de 60 mil anos.
Cueva de Ardales, uma caverna da cidade espanhola de Málaga, é famosa por conter mais de mil pinturas e gravuras feitas por povos pré-históricos, além de artefatos e restos humanos. No entanto, até agora, especialistas não tinham conseguido revelar detalhes relacionados à produção e à data dos artefatos presentes no local.
"Esse é um sítio paleolítico de grande importância no sul da Península Ibérica devido ao seu rico inventário de arte rupestre. Em nosso estudo, apresentamos os resultados das primeiras escavações feitas nessa gruta, que lançam luz sobre a história da cultura humana naquela região", destacaram os autores do artigo.
Os especialistas realizaram mais de 35 análises de datação radiométrica dos restos de artefatos encontrados no interior da caverna. Nesse trabalho, eles constataram que os primeiros ocupantes do local provavelmente eram neandertais, que viveram há cerca de 65 mil anos. O estudo também revelou que a Cueva de Ardales foi usada primeiro como um reduto de obras de arte rupestres e, em seguida, como um cemitério.
"Os desenhos mais antigos da gruta consistem em sinais abstratos, como pontos, formas de dedos e estênceis de mão criados com pigmento vermelho, enquanto obras de arte posteriores retratam pinturas figurativas, como animais", revelaram os pesquisadores. "Já os restos humanos indicam o uso da caverna como local de sepultamento. Não encontramos muitas evidências de atividades domésticas no local, sugerindo que os antigos não chegaram a viver na caverna", acrescentaram.
Para a equipe, os resultados obtidos nas análises confirmam a importância da Cueva de Ardales como uma área de alto valor simbólico. "Esse sítio oferece uma incrível história da atividade humana na Espanha e, juntamente com espaços semelhantes — existem mais de 30 outras cavernas na região com pinturas similares — torna a Península Ibérica um local chave para investigar a profunda história da cultura europeia", destacou, em um comunicado à imprensa, o pesquisador José Ramos-Muñoz, um dos autores do estudo. "Nossa pesquisa apresenta uma análise detalhada da estrutura e do passado de Cueva de Ardales, que confirma o uso da caverna como um local de atividades especiais ligadas à arte, o que nos ajuda a entender melhor também o comportamento desse grupo antigo", complementou.