Um oceano mais quente é um oceano mais faminto — pelo menos no que diz respeito aos predadores de peixes. Um estudo publicado na revista Science conduzido por pesquisadores do Instituto Smithsonian, nos EUA, em colaboração com 11 cientistas brasileiros, descobriu um efeito cascata no Atlântico e no Pacífico, com potencial de perturbar os equilíbrios ecossistêmicos que existem há milênios.
"Levou milhares de anos para chegar a esse estado e, de repente, estamos aumentando a temperatura a uma taxa muito mais alta", disse Gail Ashton, principal autora e pesquisadora do Smithsonian. "E nós, realmente, não sabemos as implicações desse crescimento."
Pesquisas anteriores sugeriram que os predadores são mais ativos nos trópicos, já que temperaturas mais altas tendem a aumentar o metabolismo dos animais. Mas a evidência empírica de estudos menores foi conflitante. E poucos tentaram esclarecer a questão central de como as comunidades de presas respondem ao aumento da pressão, o que pode prenunciar como será um oceano mais quente do futuro.
"Águas mais quentes tendem a favorecer animais no alto da cadeia alimentar, que se tornam mais ativos e precisam de mais comida — e são suas presas que pagam por esse aumento de atividade", disse o coautor Emmett Duffy, diretor da rede Marine Global. "Isso sugere que o aquecimento dos oceanos pode causar grandes mudanças na vida de habitats sensíveis do fundo do mar."
Segundo o biólogo Guilherme Longo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e um dos autores do artigo, as marcas do apetite voraz dos predadores em águas aquecidas são descomunais. "Por sua vez, nas áreas mais frias, vimos que deixar a comunidade de presas expostas ou protegidas praticamente não fez diferença. O que sugere que os efeitos dos predadores tendem a ser menores em águas mais geladas", destacou Longo, à Agência Bori.
Grandes áreas
O estudo internacional envolveu 36 localidades nas costas do Atlântico e do Pacífico americano, desde o Alasca, no norte, até a Terra do Fogo, na ponta da América do Sul. Em cada local, os pesquisadores realizaram os mesmos experimentos em predadores e presas.
"À medida que a predação muda, algumas espécies serão vencedoras e outras serão perdedoras", disse o coautor Greg Ruiz, chefe do Laboratório de Pesquisa de Invasões Marinhas do Smithsonian. "Alguns serão defendidos, outros serão vulneráveis. Mas não sabemos exatamente como isso vai acontecer."
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