Meio Ambiente

Estudo indica defasagem nas metas de conservação da biodiversidade

Estudo publicado na revista Science indica que ao menos 44% das terras do planeta precisam ser conservadas, até 2030, para evitar um colapso ecossistêmico. Governos discutem, com dificuldades, uma taxa de 30%

Correio Braziliense
postado em 04/06/2022 06:00
 (crédito: Instituto Kabu/Divulgação)
(crédito: Instituto Kabu/Divulgação)

Uma das metas mais conhecidas para a conservação da biodiversidade é chamada de 30X30 — ou seja, proteger 30% das terras e das águas até 2030 para manter a integridade ecológica do planeta. Porém, um estudo divulgado na última edição da revista Science indica um cenário em que os números precisam ser atualizados. Projeções feitas pela Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (WCS, pela sigla em inglês) mostram que pelo menos 44% das terras do planeta requerem conservação para proteger a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

Liderada por James R. Allan, da Universidade de Amsterdã, a equipe usou algoritmos geoespaciais avançados para mapear as áreas ideais para a conservação de espécies terrestres e ecossistemas em todo o mundo. Eles também recorreram a cenários de uso da terra espacialmente explícitos para quantificar quanto desse espaço está em risco de atividades humanas até 2030. A área ameaçada equivale a 64 milhões de quilômetros quadrados.

"Nosso estudo é a melhor estimativa atual de quanta terra devemos conservar para parar a crise da biodiversidade. É essencialmente um plano de conservação para o planeta", enfatiza James Allan. "Devemos agir rápido, nossos modelos mostram que mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados dessa importante terra — uma área maior que a África do Sul — provavelmente terá seu habitat limpo para uso humano até 2030, o que seria devastador para a vida selvagem."

O cientista destaca, ainda, que o trabalho tem implicações políticas importantes, já que os governos negociam, com dificuldades de consenso, uma nova estrutura global de biodiversidade. A intenção é definir novas metas com adoção imediata, considerando que o último acordo tinha objetivos estabelecidos para até 2020. "Isso definirá a agenda de conservação para pelo menos a próxima década, e os governos terão que relatar o progresso em relação a essas metas regularmente", explica Allan.

Ações insuficientes

Coautor do estudo, Kendall Jones, especialista em Planejamento da WCS, conta que, em 2010, os países assinaram o Plano Estratégico para Biodiversidade 2011-2020, que tinha, entre as metas globais, conservar pelo menos 17% das áreas terrestres por meio de áreas protegidas e outras abordagens voltadas para melhorar o status da biodiversidade e dos ecossistemas. "No entanto, até 2020, ficou claro que isso não era suficiente para deter o declínio da biodiversidade e evitar a crise da biodiversidade", avalia.

Uma meta de alto perfil que está sendo discutida agora é a 30X30, o que, na avaliação de Jones, não deve ser suficiente. "Embora esse seja um grande passo na direção certa, nosso estudo sugere que metas e políticas mais ambiciosas para manter a integridade ecológica são cruciais. Se as nações levam a sério a proteção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos que sustentam a vida na Terra, elas precisam aumentar imediatamente seus esforços de conservação não apenas em extensão e intensidade, mas também em eficácia", enfatiza. Segundo os autores, o estudo fornece informações essenciais para o planejamento de conservação e desenvolvimento da biodiversidade e pode ajudar a orientar futuras agendas nacionais e globais de conservação.

Indicações

A equipe da WCS também indicou, no artigo, alguns direcionamentos para ações futuras. Para os especialistas, todas as terras identificadas não devem necessariamente ser designadas como áreas protegidas, mas gerenciadas por meio de uma ampla gama de estratégias para a conservação de espécies e ecossistemas, incluindo outras medidas efetivas de conservação baseadas em áreas e políticas eficazes de uso sustentável da terra quando apropriado.

"Ações de conservação que promovam a autonomia e a autodeterminação das pessoas que vivem nessas terras, mantendo a integridade ecológica, são cruciais", indica Allan. "Temos muitas ferramentas de conservação eficazes disponíveis, desde capacitar os povos indígenas a gerenciar seu ambiente natural até políticas que limitam o desmatamento ou fornecem opções sustentáveis de subsistência e, claro, áreas protegidas."

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“Se as nações levam a sério a proteção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos(...), elas precisam aumentar imediatamente seus esforços de conservação não apenas em extensão e intensidade, mas também em eficácia”

Kendall Jones, especialista em Planejamento da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (WCS)

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