A altura de uma pessoa pode influenciar o risco de ela adoecer, mostra estudo publicado na última edição da revista Plos Genetics. O trabalho indica que há uma ligação entre a estatura mais alta e a ocorrência de mais de 100 problemas de saúde, como infecções de pele e doenças venosas crônicas. De acordo com os autores do artigo, que fazem parte do Centro Médico Rocky Mountain Regional VA, nos EUA, essa característica física pode ser considerada um fator de risco não modificável para uma série de enfermidades comuns. Dessa forma, profissionais de saúde poderiam considerá-la no diagnóstico precoce de algumas complicações.
Estudos anteriores indicaram correlações entre a estatura de uma pessoa e a probabilidade de ela sofrer doenças cardíacas e até cânceres. O que ainda não é bem compreendido é se essa ligação tem uma base biológica ou se deve a outros fatores. "A altura de um ser adulto é determinada, em partes, pelos genes herdados dos pais. Mas fatores ambientais, como nutrição, status socioeconômico e fatores demográficos — por exemplo, idade e sexo —, também desempenham um papel", detalham os autores do artigo.
A disponibilidade de um grande biobanco de dados levou o grupo a avaliar uma "quantidade de dados genéticos robusta", na tentativa de decifrar de que forma esses fatores se relacionam. O grupo analisou dados genéticos e médicos de mais de 250 mil adultos, todos retirados do Programa VA Million Veteran, que reúne informações de ex-combatentes de guerra americanos.
Esses dados foram cruzados com uma lista de 3.290 variantes genéticas associadas à altura, mapeadas em uma análise recente do genoma. Depois, a equipe buscou ligações entre a estatura determinada pelo DNA e uma série de enfermidades. "Analisamos mais de mil condições médicas e suas características em geral. Até onde sabemos, a mais ampla avaliação sobre o tema feita até agora examinou apenas 50, tornando essa investigação o maior estudo de altura e doenças feito até o momento", destaca, em comunicado, Sridharan Raghavan, um dos autores.
As análises mostraram que os níveis de risco para 127 condições médicas podem estar ligados a uma estatura considerada alta: 1.76m, em média. Entre as complicações relacionadas, estão neuropatia periférica (causada por danos nos nervos das extremidades), infecções de pele e ossos, úlceras nas extremidades inferiores (pernas e pés) e doenças venosas crônicas. Os pesquisadores também associaram uma estatura maior a enfermidades como disfunção erétil e retenção urinária, ambas associadas à neuropatia, além de complicações como celulite, abscessos na pele, osteomielite, trombose e deformidades nos dedos e nos pés.
O estudo confirmou ainda o resultado de estudos anteriores que indicaram a correlação entre maior estatura e vulnerabilidade acentuada à fibrilação atrial e às varizes e um menor risco de doença cardíaca coronária, pressão alta e colesterol alto. "Por ter usado uma quantidade de dados tão ampla, o nosso estudo rendeu um rico catálogo de condições clínicas associadas à altura geneticamente prevista. Em outras palavras, essas são condições para as quais a estatura pode ser um fator de risco ou fator de proteção, independentemente de outras condições ambientais que também possam afetar a altura e a saúde", enfatiza Raghavan.
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Prevenção
Com base nessas conclusões, os autores defendem que pode ser útil considerar a altura de uma pessoa em avaliações preventivas. "Acho que nossas descobertas são um primeiro passo para uma avaliação refinada do risco de enfermidades. Nosso trabalho é uma contribuição significativa para a área de diagnóstico, mas mais pesquisas são necessárias antes que as descobertas possam levar a mudanças nos cuidados clínicos", afirma Raghavan.
Segundo Salmo Raskin, médico pediatra, geneticista e diretor do Laboratório Genetika, em Curitiba, os dados se referem a uma área pouco compreendida na genética — muito por falta de ferramentas para pesquisa. "É um estudo muito rico pela forma como foi feito. Os pesquisadores usaram uma grande quantidade de dados presentes em prontuários médicos digitais e os cruzaram com informações de DNA. Essas são opções que não tínhamos no passado", explica.
O médico chama a atenção para uma característica que deve ser considerada para um possível uso global desses dados. "Eu só destacaria que a altura considerada alta para os pesquisadores foi determinada com base na população americana, que tem uma estatura média maior do que a dos brasileiros. Aqui, provavelmente essa análise seguiria outro parâmetro, já que somos mais baixos em comparação a eles", diz.
Na avaliação de Raskin, os dados contribuem para avanços em uma área que está em grande crescimento: a medicina de precisão. "O objetivo principal é que no futuro, em um dia que parece cada vez mais próximo, nós conseguiremos fazer uma análise genética e considerar uma série de novos fatores, como a altura, para calcular os riscos de uma pessoa sofrer com determinada doença. Essas informações vão ajudar a estratificar, de forma cada vez mais minuciosa, o diagnóstico de um problema de saúde", aposta.
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