A pandemia da covid-19 pode ter facilitado o surgimento, na Austrália, de novas cepas de um patógeno comum, o vírus sincicial respiratório (VSR), além de influenciar a sua dinâmica de circulação. O fenômeno é relatado por cientistas da Universidade de Sidney na última edição da Nature Communications e pode ajudar a explicar o fato de esse micro-organismo estar infectando mais pessoas fora de época, como tem acontecido também no Brasil.
A equipe mapeou as impressões digitais genéticas das variantes que causaram os principais surtos de VSR antes e após a pandemia, em diversas regiões do país, como a Austrália Ocidental, Nova Gales do Sul e a capital, Sydney. Com esses dados, os pesquisadores criaram uma "árvore genealógica" do patógeno, decifrando a linhagem de cada uma de suas cepas.
As análises indicam que, antes do novo coronavírus, dois subtipos principais do VSR (A e B) circulavam em níveis semelhantes. Já no fim de 2020 até o início de 2021, durante os períodos de surto no país, isso mudou drasticamente. O subtipo RSV-A passou a ser a cepa dominante — representando mais de 95% dos casos em todos os estados, e o VSR-B praticamente desapareceu.
Além disso, surgiram novas variantes do patógeno, um comportamento também considerado atípico. "Descobrimos que havia duas novas cepas de VSR, ambos subtipos de VSR-A", relata, em comunicado, John-Sebastian Eden, pesquisador do Instituto de Doenças Infecciosas da Universidade de Sydney e um dos autores do estudo.
Para o cientista, as mudanças são um "grande colapso" no comportamento desse vírus. "Nossos estudos genéticos mostraram que a maioria das cepas anteriores de RSV foi 'extinta' e que, para cada surto, apenas uma única linhagem genética sobreviveu a todos os bloqueios", detalha, Eden.
Vigilância
Segundo o pesquisador, os resultados indicam a necessidade de um maior monitoramento epidemiológico do VSR e outros vírus conhecidos, incluindo o da gripe comum, que é o mais incidente na população. "Precisamos reavaliar a nossa compreensão e as expectativas em torno dos vírus comuns, incluindo a gripe, e mudar nossa abordagem de como os gerenciamos", defende. "A constelação de cepas de gripe circulando antes e depois da covid-19 também mudou muito, o que desencadeia uma série de desafios na forma como escolhemos a composição e o momento de aplicação das vacinas."
Segundo o cientista, na Austrália, a temporada de gripe na Austrália "começou muito mais cedo do que nos anos anteriores". O fenômeno, avalia, pode se repetir com outros micro-organismos. "Precisamos estar preparados para grandes surtos de VSR fora dos períodos sazonais normais, e devemos equipar nossos sistemas de saúde para esse possível cenário", afirma.
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