O protetor solar é indicado para pessoas de todas as faixas etárias, com a recomendação de que seja usado diariamente para evitar o câncer de pele, uma das doenças mais incidentes na população. Apesar dos benefícios à saúde, estudos científicos mostram que esse produto gera prejuízos ao meio ambiente, principalmente à fauna marinha. Na tentativa de equilibrar esses efeitos, pesquisadores internacionais buscam matérias-primas naturais que possam ser usadas em novas formulações desses tópicos. Os futuros bloqueadores poderão, inclusive, evitar outras complicações humanas, como o envelhecimento da pele.
A maioria dos produtos comercializados utiliza um bloqueador químico de raios ultravioleta (UV) chamado oxibenzona. Estudos recentes, porém, mostram que essa substância acelera a destruição de recifes de coral. "Vários estados e países já proibiram o uso desse químico e seus derivados para impedir os efeitos devastadores sobre o ecossistema marinho do mundo", relata, em comunicado à imprensa, Kan Cao, professora do Departamento de Biologia Celular e Genética Molecular da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
Para evitar esses prejuízos ambientais, Cao e colegas resolveram testar o uso de um medicamento conhecido como um possível substituto do oxibenzona: o azul de metileno. Em experimentos laboratoriais, essa droga não tóxica, utilizada para tratar problemas médicos diversos, como envenenamentos e malária, foi aplicada em células de pele humanas de doadores jovens e idosos. Os pesquisadores constataram que o azul de metileno absorve os raios UVA e UVB como os filtros solares tradicionais e também ajuda a reparar os danos no DNA causados pela exposição ao Sol.
"Ficamos extremamente animados ao ver que os fibroblastos da pele derivados de indivíduos jovens e idosos foram protegidos do estresse celular com o auxílio do azul de metileno", enfatiza Cao. "O mais surpreendente é que também descobrimos que a combinação de azul de metileno e vitamina C gera efeitos antienvelhecimento surpreendentes, particularmente em células da pele de doadores mais velhos, sugerindo uma forte relação sinérgica entre essas substâncias."
Em uma segunda etapa, a equipe expôs as mesmas quantidades de azul de metileno e de oxibenzona a uma espécie de coral flexível: o Xenia umbellata. Os corais estavam em tanques isolados e tiveram o crescimento e as respostas à exposição a esses produtos químicos monitorados. Em menos de uma semana, os que estavam nos recipientes com oxibenzona sofreram um branqueamento (desgaste) drástico. Já os que tiveram contato com o azul de metileno não tiveram o mesmo prejuízo, mesmo com alta concentração da substância. Detalhes dos resultados foram apresentados em um artigo publicado na revista Scientific Reports.
Melissa Deuner, coordenadora do curso de farmácia da Faculdade Anhanguera, em Brasília, conta que o azul de metileno vem sendo estudado em várias pesquisas da área médica, obtendo bons resultados. "Esse artigo, agora, demonstra a eficiência como um fotoprotetor. E o mais importante é que ele torna o produto mais biodegradável. Em alguns países, já vem sendo reduzido o uso da oxibenzona e também de outro elemento químico usado nesses cosméticos, o dimetil PABA, devido aos vários prejuízos que eles causam à fauna e à flora aquática", detalha. "Sem falar que eles podem ser um potencial cancerígeno para nossas células e até causar desequilíbrios hormonais."
Deuner acredita que a busca por produtos farmacêuticos menos agressivos ao planeta vai se tornar ainda mais forte nos próximos anos. "Cada dia mais, empresas vêm se preocupando em produzir esses produtos. Estatisticamente, percebe-se que eles são mais bem vistos e aceitos pela população. Sem falar que, se todos contribuírem de forma positiva nessa questão, estaremos auxiliando a preservar a nossa sobrevivência", explica. "Desejamos que esses estudos sejam ampliados e que desenvolvam fotoprotetores também orais. Assim, estaríamos dando um excelente salto ao auxílio ambiental."
Do lixo
Uma oleaginosa muito consumida no Brasil também pode ser usada como matéria-prima de protetores solares, mostram pesquisadores sul-africanos. "Com as preocupações atuais sobre os absorvedores de raios UV em protetores solares e o seu impacto no ecossistema, buscamos encontrar uma maneira de produzir uma alternativa menos agressiva a partir do líquido da casca da castanha-de-caju, um recurso biorrenovável", relata, em comunicado, Charles de Koning, pesquisador da Universidade de Witwatersrand e um dos autores do estudo, publicado na revista European Journal of Organic Chemistry.
Em experimentos com células de pele humana, a equipe testou várias versões de filtros solares com fenóis, substâncias presentes no líquido retirado da casca da castanha-de-caju. As moléculas mostraram uma alta absorção dos raios UVA e UVB, mas falta, segundo os cientistas, ajustar a quantidade de fenóis presentes na solução para gerar a proteção necessária à pele.
Koning também chama a atenção para o fato de a inovação médica usar produtos cujo destino nem sempre é ambientalmente sustentável. "Essas cascas são um resíduo descartado nas comunidades que produzem esse alimento, especialmente na Tanzânia. Então, encontrar uma maneira útil e sustentável de usar esse material é algo que pode ser muito vantajoso para nós e para o planeta", enfatiza.
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