Pessoas que fazem uso de cannabis precisam de níveis mais altos de sedação para serem submetidas a endoscopias gástricas do que aquelas que não fazem uso da substância. A descoberta é resultado de um estudo feito por pesquisadores do Instituto Snyder de Doenças Crônicas da Universidade de Calgary, no Canadá, divulgado no sábado (21/5) em um seminário sobre doenças digestivas.
Os cientistas afirmam que a descoberta serve como um alerta aos médicos: com a legalização da cannabis em expansão em alguns países e o uso em crescimento, "os especialistas devem estar cientes dos hábitos dos pacientes e preparar a si mesmos e a eles para aumentar a sedação e os riscos associados".
O estudo foi feito a partir do acompanhamento de 419 pacientes adultos que foram submetidos a procedimentos endoscópicos em três centros médicos do Canadá. Cada paciente preencheu dois questionários: o primeiro, antes do exame, no qual respondiam sobre o uso ou não uso de cannabis.
Depois da endoscopia, os analisados responderam sobre o nível de consciência e conforto durante o procedimento. O exame exige que o paciente esteja relaxado e confortável, mas parcialmente consciente.
A sedação ajuda a tirar qualquer desconforto sensorial do paciente, e também uma reação física do trato gastrointestinal que, sem a sedação, pode irritar e desencadear um refluxo. A análise dos questionários junto com as anotações de sedação dos profissionais de saúde mostraram que os usuários de cannabis precisaram de mais sedativos para permanecerem no estado ideal para o exame.
Todos os pacientes foram sedados com doses de midazolam, fentanil e difenidramina. Os pacientes que usaram a substância que dá origem a maconha demonstraram maior incidência de mais sedação, chegando a quase uma sedação total — definida, pelos pesquisadores, como mais de 5mg de midazolam ou mais de 100 mcg de fentanil.
“Os pacientes não tiveram maior consciência ou desconforto durante os procedimentos, mas exigiram mais medicamentos”, explicou Yasmin Nasser, MD, PhD, pesquisadora principal do estudo e professora assistente do Instituto Snyder de Doenças Crônicas.
Agora, os pesquisadores avaliam novas abordagens em relação ao uso de cannabis e o procedimento. Uma delas é verificar se a quantidade ou a forma — inalada, vaporizada ou comida — de ingestão da substância antes do procedimento traz alterações na necessidade de maior sedação.
Outro braço para estudos é se há a mesma necessidade de maior nível de sedativos caso a sedação seja feita com propofol, o que é mais comum nos EUA.