Com a evolução da genética, especialistas conseguiram identificar uma série de genes relacionados a doenças raras e comuns. Mas, para entender como essas peças de DNA causam as enfermidades, é necessário saber onde elas estão ativas no organismo. Em uma série de estudos publicados na revista Science, um consórcio internacional de cientistas apresentou uma espécie de atlas em que utilizam um novo método tecnológico para revelar a atividade gênica presente em tipos específicos de células humanas. O trabalho poderá impulsionar estudos de tratamentos para enfermidades diversas, além de criação de vacinas e práticas de medicina regenerativa.
No artigo, os autores explicam que, para entender melhor a ação de determinados genes no corpo, é necessário traçar o perfil de todos os tipos de células e compará-los entre os órgãos humanos. Estudos anteriores se concentraram no mapeamento de uma célula de cada vez, algo muito demorado e trabalhoso. Para agilizar esse processo, a equipe desenvolveu um método computacional que avalia mais de uma célula ao mesmo tempo, ao isolar o seu núcleo, avaliando apenas o RNA de cada uma delas.
"Essa foi a forma mais eficaz que encontramos para ter uma visão mais precisa das células, porque é onde a biologia acontece, tanto na saúde quanto na doença", enfatiza, em comunicado à imprensa, Ayellet Segrè, coautor do estudo e professora da Universidade de Harvard, nos EUA.
Para explorar o novo método, os pesquisadores resolveram montar um catálogo de doenças mendelianas, que são causadas por alterações em um único gene. Eles cruzaram os 6 mil genes conhecidos ligados a esses distúrbios com mapeamentos celulares feitos a partir da nova tecnologia. As comparações identificaram novos tipos de células que podem estar envolvidas nessas enfermidades.
Ao todo, a equipe traçou mapas detalhados de mais de 1 milhão de células individuais em 33 órgãos, representando os atlas de células cruzadas mais abrangentes até hoje. "Esse atlas pode nos ajudar a entender as causas de diversos problemas de saúde e também as variantes genéticas que podem predispor várias doenças ou condições na mesma pessoa", indicam os autores.
Escalas maiores
O grupo adianta que a análise precisa de aperfeiçoamento, por ser um trabalho experimental, mas já prepara o terreno para estudos de maior escala, em centenas de indivíduos, com diversas etnias. Esse olhar ampliado é essencial em pesquisas de perfil genético, pontua Segrè.
"Estudar a identidade dos tecidos é a única maneira de revelar detalhes tão importantes da nossa biologia. Sempre quisemos ser capazes de traçar o perfil de todo o corpo humano. No passado, isso não foi possível, mas parece que estamos mais próximos dessa conquista", comemora. "Com essas novas tecnologias, agora, podemos mapear células em tecidos saudáveis do corpo humano, e isso nos dá uma base abrangente para entender o que acontece de errado e desencadeia doenças", acrescenta.