Novos resultados de estudos científicos indicam áreas a serem exploradas como futuros tratamentos contra as demências. Para uma equipe da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, "células estressadas" podem eliminar o acúmulo de proteínas tóxicas no cérebro — fenômeno ligado ao Alzheimer. Um grupo da Universidade Monash, na Austrália, por sua vez, traz os dados dos ensaios clínicos iniciais de um medicamento para casos de neurodegeneração que acometem pacientes mais jovens.
Divulgado na última edição da revista Nature Communications, o trabalho britânico mostra, em experimentos de laboratório, que uma atividade acelerada das moléculas pode ajudar a "desmontar" as placas de proteína que comprometem a saúde neural. Os agregados de tau e beta-amiloide são justamente a principal frente de estudos científicos na área do Alzheimer.
"Essas moléculas se acumulam em um processo chamado de dobramento de proteínas, que é um procedimento normal no corpo. Ele serve como um controle de qualidade, destruindo os elementos defeituosos e mantendo os de bom funcionamento. No caso das doenças neurodegenerativas, esse sistema fica prejudicado e, com isso, consequências potencialmente devastadoras podem acontecer", detalham os autores do artigo.
A equipe estudou o retículo endoplasmático (ER), uma espécie de membrana encontrada nas células de mamíferos, para chegar às conclusões. Essa estrutura desempenha uma série de funções importantes para a sobrevivência das células, como o transporte de proteínas presentes em sua superfície. Os especialistas levantaram a hipótese de que o estresse sofrido pela ER poderia atrapalhar o seu funcionamento, levando ao acúmulo das proteínas maléficas.
"Assim como ficamos estressados por uma carga de trabalho pesada, as células também podem ficar 'estressadas' se precisarem produzir uma grande quantidade de proteínas. Há muitas razões pelas quais isso pode acontecer. Por exemplo, quando elas estão produzindo anticorpos em resposta a uma infecção", explica, em comunicado, Edward Avezov, pesquisador do Instituto de Pesquisa de Demência da universidade britânica e um dos autores do estudo.
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"Desembaraçadas"
Durante as análises, os especialistas ficaram surpresos ao descobrirem que a hipótese levantada funcionava de maneira oposta. Ou seja, a sobrecarga de trabalho ajuda as células a eliminarem as proteínas acumuladas. "Ficamos chocados ao descobrir que estressar a célula realmente eliminou os agregados — não por degradá-los ou limpá-los, mas por 'desembaraçá-los', permitindo que eles se redobrem corretamente", detalha Avezov.
Moléculas conhecidas como proteínas de choque térmico (HSPs), que são produzidas quando as células são expostas a temperaturas acima do normal, podem ser as responsáveis pelo mecanismo descoberto, segundo Avezov. "Houve alguns estudos recentes que mostraram que pessoas que vivem em países escandinavos e usam saunas regularmente podem ter um risco menor de desenvolver demência. Uma possível explicação para isso é que esse estresse leve (causado pelo aumento de temperatura) desencadeia uma maior atividade de HSPs, ajudando a corrigir as proteínas emaranhadas", especula.
O cientista cogita um tratamento a partir do fenômeno que constatou com os colegas. "Se pudermos encontrar uma maneira de despertar esse mecanismo sem estressar as células — o que pode causar mais danos do que benefícios —, talvez possamos encontrar uma maneira de tratar algumas demências", indica. Avezov pondera que mais análises são necessárias para ajudar a entender melhor os dados obtidos no experimento em laboratório.