Um grupo de pesquisadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) identificou um novo besouro que provoca a produção de própolis vermelha. As descobertas são relatadas em um artigo publicado na revista The Science of Nature.
Jairo Kenupp Bastos ouviu falar do inseto pela primeira vez enquanto visitava Canavieiras, no litoral sul da Bahia. “Os apicultores locais me contaram sobre um pequeno besouro que faz buracos em uma planta chamada Dalbergia ecastaphyllum [Coinvine], um membro da família das ervilhas, e que os buracos vazavam uma resina usada pelas abelhas para fazer própolis vermelha”, disse Bastos, professor de farmacognosia (o estudo de medicamentos isolados de fontes naturais, como plantas, animais e minerais) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP).
As abelhas melíferas (Apis mellifera) colhem a resina e a misturam com cera, pólen e enzimas para fazer a própolis vermelha, a segunda própolis mais produzida e comercializada no Brasil. A cor vermelha deriva da resina e possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antitumorais.
Para entender mais sobre o processo, Bastos levou várias larvas do besouro ao Museu de Zoologia da cidade de São Paulo, onde foi informado de que eram necessários espécimes adultos para identificar o inseto corretamente. Ele convidou a doutoranda Letizia Migliore para ajudar na missão indo ao interior de Canavieiras em busca da planta com seus besouros. Ela estava acompanhada por Gianfranco Curletti, entomologista afiliado ao Museu Cívico de História Natural de Carmagnola, Itália; Gari Ccana-Ccapatinta, pós-doutorando da FCFRP-USP; e Jean Carvalho, biólogo e apicultor de Canavieiras.
“O besouro é muito pequeno, então não foi uma tarefa fácil, mas conseguimos coletar alguns machos e fêmeas, que foram fixados em etanol a 70% e levados ao museu, onde foram analisados ao microscópio. Foi assim que descobrimos essa nova espécie da família Buprestidae, que recebeu o nome de Agrilus própolis”, lembrou Migliore.
Além de Curletti, Gabriel Biffi (chefe do Coleoptera Lab) e Sônia Casari, supervisora de Migliore, também participaram.
“Paralelamente a isso, foram feitas análises fitoquímicas no Laboratório de Farmacognosia [da FCFRP-USP] para confirmar que a resina e a própolis tinham a mesma composição química, comprovando sua origem botânica e mostrando que essa nova espécie de besouro contribui para a produção da substância medicinal”, comentou Ccana-Ccapatinta.
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Transformação
A pesquisa combinada dos dois grupos oferece uma visão geral do processo. As larvas do besouro desenvolvem-se no interior dos caules de D. ecastaphyllum e, ao atingirem a idade adulta, emergem através de orifícios, juntamente com o exsudado (uma espécie de transpiração) resinoso.
Eles foram financiados pela FAPESP por meio de Projeto Temático liderado por Bastos e bolsa de doutorado concedida a Jennyfer Mejía, coautora do artigo.
“O artigo é extremamente importante porque mostra que o agente que induz a planta hospedeira a produzir o ingrediente chave da própolis vermelha foi finalmente identificado. Até agora não tínhamos informações sobre a espécie de inseto que poderia estar por trás desse fenômeno”, disse Casari, acrescentando que os dados servem de base para novas pesquisas sobre a produção de própolis vermelha, que é vendida por um preço alto e, portanto, tem significado. Um quilo valia US$ 150 no mercado em 2019, quando a pesquisa foi feita.
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