O diabetes tipo 2 pode acelerar o envelhecimento cerebral e o declínio cognitivo, mostra um estudo americano. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após avaliar dados neurais de cerca de 20 mil pessoas e acreditam que, se mais investigada, a relação poderá ajudar no desenvolvimento de novas estratégias que ajudem a prevenir problemas neurodegenerativos, como Alzheimer.
No artigo publicado na revista eLife, os autores explicam que existem fortes evidências ligando a doença metabólica ao declínio cognitivo. Porém, poucas pessoas são submetidas a uma análise cerebral durante o tratamento do diabetes, o que atrapalha a compreensão dessa relação.
"As avaliações clínicas de rotina para o diagnóstico de diabetes geralmente se concentram na glicose no sangue, nos níveis de insulina e na porcentagem de massa corporal", relata, em comunicado, Botond Antal, estudante de doutorado da Stony Brook University, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.
Segundo Antal, os efeitos neurológicos do diabetes tipo 2 podem se revelar muitos anos antes de serem detectados por medidas padrão da doença. "Então, quando essa enfermidade é diagnosticada por testes convencionais, os pacientes já podem ter sofrido danos cerebrais irreversíveis", alerta.
No estudo, foi utilizado o maior conjunto de dados de estrutura e função cerebral disponíveis, o UK Biobank, e analisou informações neurais de cerca de 20 mil pessoas com 50 a 80 anos. "Esse banco médico inclui varreduras cerebrais e medições da função neural, com dados relativos a indivíduos saudáveis e aqueles com diagnóstico de diabetes tipo 2", detalham os autores.
Com as informações, o grupo identificou quais alterações cerebrais e cognitivas eram específicas do diabetes, e não apenas do envelhecimento. Depois, confirmaram o resultado ao compará-lo com o de uma meta-análise de quase 100 outros estudos.
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Funções executivas
Como conclusão, constataram que tanto o envelhecimento quanto o diabetes tipo 2 causam alterações em três funções executivas — memória de trabalho, aprendizado e pensamento flexível —, além de alterações na velocidade de processamento cerebral. No entanto, as pessoas com diabetes tiveram uma diminuição adicional de 13,1% nas três funções executivas avaliadas, e a velocidade de processamento também diminuiu mais 6,7%, quando comparadas a pessoas da mesma idade sem diabetes.
A equipe também comparou a estrutura e a atividade cerebral entre pessoas com e sem a doença metabólica usando exames de ressonância magnética. Nesse caso, observaram uma diminuição na massa cinzenta do cérebro ligada à idade, principalmente na região chamada estriado ventral — que é fundamental para as funções executivas. As pessoas com diabetes apresentaram reduções ainda mais acentuadas nessa área neural.
Por último, os pesquisadores constataram que os efeitos negativos na função cerebral foram mais graves com o aumento da duração da doença metabólica. "Nossas descobertas sugerem que o diabetes tipo 2 e sua progressão podem estar associados ao envelhecimento cerebral acelerado, potencialmente devido ao comprometimento da disponibilidade de energia, causando mudanças significativas na estrutura e na função do cérebro", afirma Lilianne Mujica-Parodi, diretora do Laboratório de Neurodiagnóstico Computacional da Universidade Stony Brook e uma das autoras do estudo.
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