Ameaças tóxicas

Correio Braziliense
postado em 01/05/2022 06:00

Mesmo tendo uma função protetiva, a placenta não consegue evitar que alguns elementos poluentes cheguem aos fetos, segundo cientistas americanos. Eles avaliaram se nanopartículas feitas de dióxido de titânio, que estão presentes em produtos farmacêuticos comuns, como protetores solares, e equipamentos esportivos poderiam atravessar o corpo de grávidas. A análise foi feita em camundongos e teve resultados preocupantes.

Ao rastrear o movimento das pequenas partículas pelo corpo das cobaias, a equipe detectou que, em alguns casos, o material tóxico se espalha pelo corpo. "Usando algumas técnicas especializadas, encontramos evidências de que essas partículas inaladas pelo ar podem migrar do pulmão para a placenta e, possivelmente, para os tecidos fetais após a exposição materna durante a gravidez. A placenta não atua como barreira a essas partículas. Nem os pulmões", afirma, em comunicado, Phoebe Stapleton, professora-assistente da Universidade Rutgers e uma das autoras do estudo.

A equipe conduziu a pesquisa interessada em investigar de que forma a placenta estaria ligada ao baixo peso de bebês ao nascer. Há uma suspeita de que a exposição a partículas poluentes causa inflamações que afetam os sistemas corporais, como o fluxo sanguíneo no útero, o que pode inibir o crescimento do feto. "Agora que sabemos que as nanopartículas migram dos pulmões da mãe para a placenta e tecidos fetais, temos mais argumentos que reforçam essa possibilidade", diz Stapleton.

Segundo Tatianna Ribeiro, ginecologista e obstetra da clínica Rehgio, em Brasília, a presença de nanopartículas poluentes na placenta já foi relatada em estudos anteriores (Leia Para saber mais). O estudo americano, porém, traz de forma detalhada todo o processo feito pelas partículas poluentes até ultrapassar essa barreira de proteção. "Nesse estudo, vemos que os pulmões também falham ao filtrar essas moléculas, e essas informações são muito importantes porque a invasão pode gerar um comprometimento da saúde fetal", enfatiza.

Para a médica, esses dados podem ser usados como base para novas pesquisas que ajudem a minimizar esses riscos aos bebês. "Há muitos especialistas da área biomédica que têm trabalhado em medicamentos nanotecnológicos. O objetivo é fazer com que esses remédios também ultrapassem essas barreiras e entreguem drogas protetivas ao feto, impedindo possíveis complicações às crianças, como o baixo peso", diz. 

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