Pessoas com problemas de saúde mental podem ser mais vulneráveis à infecção pelo novo coronavírus, mostra um estudo americano. Após avaliar dados médicos de milhares de pacientes, cientistas descobriram que aqueles com histórico de transtornos psicóticos, ansiedade e bipolaridade apresentam um risco até 24% maior de ter covid-19. Isso pode acontecer em função de deficiências imunológicas e de comportamentos de risco associados a algumas dessas desordens, segundo os autores do estudo, publicado na última edição da revista Jama Network Open.
A equipe da Universidade da Califórnia rastreou dados de cerca de 250 mil indivíduos tratados no Hospital Militar de Veteranos dos Estados Unidos. Todos haviam recebido o regime vacinal completo contra a covid-19 e fizeram, ao menos, um teste de detecção para a infecção pelo Sars-CoV-2. Pouco mais da metade (51,4%) tinha recebido pelo menos um diagnóstico psiquiátrico nos cinco anos anteriores ao estudo e 14,8%, desenvolvido a covid-19.
As análises do material indicaram que os participantes com mais de 65 anos e histórico de abuso de substâncias, transtornos psicóticos, transtorno bipolar ou transtorno de adaptação e ansiedade apresentaram um risco maior de até 24% de serem infectados pelo Sars-CoV-2. Entre os pacientes com menos de 65 anos, a taxa caiu para 11%. Segundo o artigo, em ambas as faixas etárias, foram ajustados dados como idade, sexo, raça, etnia e tipo de vacina e comorbidades. "Tudo isso dá ainda mais validade às taxas encontradas", enfatizam os autores.
Para o grupo, um sistema de defesa "em baixa" entre pessoas com complicações psiquiátricas pode explicar a maior vulnerabilidade. "Nossa pesquisa sugere que o aumento de infecções em pessoas com transtornos psiquiátricos não pode ser explicado somente por fatores sociodemográficos ou condições preexistentes", afirma Aoife O'Donovan, um dos autores. "É possível que a imunidade após a vacinação diminua mais rapidamente ou mais fortemente para pessoas com esses distúrbios, e isso pode fazer com que elas tenham uma menor proteção para variantes mais recentes." Outra hipótese é a de que idosos que tiveram ou que têm esses transtornos precisem de atendimento presencial mais frequente, o que foi comprometido pelo isolamento.
Impulsividade
Os dados entram em concordância com os resultados de um segundo estudo conduzido pela mesma equipe de cientistas. Na análise, eles avaliaram 263.697 pessoas, com, em média, 66 anos, sendo 90,8% do sexo masculino, e constataram que aquelas com ansiedade elevada e provável transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), condições associadas à impulsividade, eram mais propensas a se envolverem em comportamentos que as colocavam em maior risco de se infectar pelo novo coronavírus.
Nesse caso, os riscos aumentados variaram de 3%, considerando todas as pessoas com histórico de distúrbios psiquiátricos a 24%, em um recorte de maiores de 65 anos com abuso de substâncias, como álcool. Para o grupo, os dados obtidos em ambos os estudos devem ser levados em consideração no desenvolvimento de estratégias de combate e prevenção ao Sars-CoV-2. "É importante considerar a saúde mental em conjunto com outros fatores de risco. Com isso, alguns pacientes devem ser priorizados para reforços vacinais e outros esforços preventivos críticos", defende Kristen Nishimi, também autora do estudo.