Um estudo americano mostra que, devido à crise climática, nos próximos 50 anos, ocorrerão ao menos 15 mil casos de vírus saltando entre espécies. O fenômeno poderá alimentar uma disseminação "potencialmente devastadora" de doenças, aumentando o risco de novas pandemias, alertam os pesquisadores. "Essa pesquisa fornece evidências incontestáveis de que as próximas décadas não serão apenas mais quentes, mas mais doentes", afirma, em comunicado, Gregory Albery, especialista em ecologia da Universidade de Georgetown e um dos responsáveis pelo trabalho.
No estudo, publicado na última edição da revista britânica Nature, os autores explicam que, com o aumento contínuo da temperatura do planeta, muitas espécies de seres vivos são forçadas a se mudarem para novas áreas em busca de condições adequadas de sobrevivência. Ao realizar esse trajeto "forçado", esses animais levam seus parasitas e patógenos, fazendo com que eles se espalhem entre espécies.
"Isso aumentará o risco do que chamamos de 'transferência zoonótica', em que os vírus são levados de animais para pessoas, potencialmente desencadeando outra pandemia", afirmam os autores. "À medida que o mundo muda, a face da doença também mudará", enfatiza Albery. Para chegar à conclusão, o grupo avaliou como, até 2070, os habitats de 3.870 espécies de mamíferos podem mudar em resposta a diferentes cenários climáticos. Um modelo de padrões de compartilhamento viral serviu de base para os cálculos.
Com base nos dados, os investigadores observaram que novos encontros entre espécies de mamíferos ocorrerão em todo o mundo, mas estarão concentrados em áreas de alta densidade populacional humana, como a África tropical e o sudeste da Ásia. "Prevê-se que esses novos eventos de compartilhamento de vírus sejam conduzidos predominantemente por morcegos, que, provavelmente, abrigam vírus com alta chance de serem transmissíveis a humanos", indicam os autores.
Vigilância
O estudo indica, ainda, que é possível que esse fenômeno já esteja acontecendo. "Surpreendentemente, descobrimos que essa transição ecológica já pode ser uma realidade, e manter o aquecimento abaixo de 2°C não reduzirá o compartilhamento de vírus no futuro", alertam.
Segundo os autores, esses dados reforçam a necessidade de adotar medidas de monitoramento viral mais avançadas, que ajudem a evitar o surgimento de novas enfermidades, como a covid-19. "Nossas descobertas sugerem que as mudanças climáticas têm o potencial de se tornar uma força motriz dominante na transmissão viral entre espécies, o que pode aumentar o risco de transmissão de doenças infecciosas aos seres humanos. A vigilância pode ajudar a identificar essas doenças infecciosas que saltam entre as espécies e evitar situações ainda mais graves", ressaltam.
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