O maior cometa já observado por astrônomos está vindo em direção à Terra a uma velocidade de 35,4 mil km/h. Mas, calma, não é necessário pânico. Como de costume em astronomia, proximidade é um conceito muito relativo. Neste caso, o mais perto que o C/2014 UN271 chegará do Sol (no ano de 2031) é uma distância de 1,6 bilhão de quilômetros. Isso significa que, em nove anos, ele vai passar um pouco mais longe do nosso planeta que a rota de Saturno — o sexto planeta do Sistema Solar (em relação a distância do Sol).
Ainda assim, o fenômeno é considerado extraordinário pelos astrônomos e astrofísicos e vem chamando atenção dos estudiosos da área há mais dez anos por vários fatores. O primeiro deles é a dimensão do cometa Bernardinelli-Bernstein, como foi batizado o C/2014 UN271. O nome é em homenagem aos dois cientistas que o descobriram, em 2010: o brasileiro Pedro Bernardinelli e estadunidense Gary Bernstein.
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Com um diâmetro estimado em 130 km, pouco menos que a distância entre o centro de Brasília e a cidade de Pirenópolis, o cometa chegou a ser confundido com um planeta anão — como Plutão — na época em que foi achado. A confusão ocorreu porque encontrar um cometa desse tamanho é extremamente raro, uma vez que o núcleo dele é cerca de 50 vezes maior que a média dos corpos celestes da mesma categoria.
Além disso, o Bernardinelli-Bernstein é considerado uma relíquia do Sistema Solar pela idade, estimada em 4 bilhões de anos, e vem de uma região sobre a qual quase não há dados, só teorias, chamada de Nuvem de Oort. “Este cometa é literalmente a ponta do iceberg de muitos milhares de cometas que são muito fracos para serem vistos nas partes mais distantes do sistema solar”, explicou David Jewitt, professor de ciência planetária e astronomia da Universidade da Califórnia (UCLA).
Hubble confirma massa de aproximadamente 500 trilhões de toneladas
Jewitt é coautor de um estudo sobre o C/2014 UN271 publicado no The Astrophysical Journal Letters na terça-feira (13/4). Para o cientista, uma das funções mais importantes dos novos dados, coletados através do telescópio Hubble, é confirmar dimensões que, até então, os cientistas só podiam estimar.
Com a massa de aproximadamente 500 trilhões de toneladas, o cometa tem o tamanho do núcleo equivalente ao monte Everest. Isso é cem mil vezes maior que a massa de um cometa típico encontrado muito mais perto do Sol. O C/2014 UN271, no entanto, é menos brilhante que os cientistas imaginavam, com um núcleo bastante escuro e sólido, além da nuvem de poeira e gás que o envolve.
“Achamos que o cometa poderia ser bem grande, mas precisávamos dos melhores dados para confirmar isso”, disse o autor principal do estudo Man-To Hui, que obteve o título de doutor na UCLA em 2019 e agora está na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau em Taipa, Macau. “Este é um objeto incrível, dado o quão ativo é quando ainda está tão longe do sol”, complementou.
A distância entre o Bernardinelli-Bernstein e sol é de menos de 3 bilhões de quilômetros. Daqui a alguns milhões de anos, ele retornará ao seu local de origem na nuvem de Oort, segundo o professor Jewitt. A teoria diz que essa região é local de surgimento de trilhões de cometas e fica a algumas centenas de vezes a distância entre o Sol e a Terra, pelo menos, um quarto do caminho para a distância das estrelas mais próximas ao nosso Sol, no sistema Alpha Centauri.
O artigo Detecção do Telescópio Espacial Hubble do Núcleo do Cometa C/2014 UN 271 (Bernardinelli–Bernstein) pode ser lido, na íntegra (em inglês), na página do The Astrophysical Journal Letters.
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