Quando começaram a dominar as prateleiras, os ultraprocessados estavam muito associados a um discurso de mais autonomia alimentar, lembra Mariana Melendez, nutricionista e doutoranda em nutrição humana pela Universidade de Brasília (UnB) na área de obesidade e cirurgia bariátrica. "Lembro que, quando entraram na moda, todos adolescentes comiam não só pelo sabor diferente, mas pela praticidade. Esses alimentos eram vendidos nessa época como produtos mais práticos, que você poderia levar dentro da bolsa", diz. "Esse estudo mostra que esse hábito se manteve, mesmo a gente sabendo, agora, dos riscos envolvidos. E os prejuízos mostrados são muito relevantes, principalmente a obesidade visceral, relacionada a uma série de riscos à saúde."
A nutricionista também considera que os resultados acendem uma luz de alerta que não pode ser ignorada. "Todos esses resultados mostram uma urgência necessária para modificar os hábitos alimentares dessa faixa etária da população. Por mais que não seja possível cortar o consumo de todos os ultraprocessados, é importante diminuir a quantidade deles, e isso precisa ser corrigido no dia a dia, é um trabalho constante", diz Melendez.
Daniela Neri, uma das autoras do estudo, pontua a importância também de políticas públicas que favoreçam a adoção de novos hábitos. "Devemos ir além da educação do consumidor (…) Diferentes estratégias são possíveis, como colocar restrições à publicidade, especialmente quando dirigida ao público infantil, aumentar a tributação de alimentos ultraprocessados e, ao mesmo tempo, melhorar o acesso a produtos frescos", sugere. "Outra medida de vital importância seria exigir que os fabricantes desses produtos incluíssem informações mais claras nos rótulos para ajudar os consumidores a fazerem melhores escolhas."